O fantasma do privilégio branco rodeia o mundo desde sempre e está cada vez mais vivo, não adianta negar. Só nessa semana tivemos alguns bons exemplos, que se repetem ao longo do tempo. E veja bem, ninguém está dizendo que brancos não tem talento, ou que não devem receber determinada oportunidade, é apenas uma constatação.
Para uma pessoa preta ser contratada ou até mesmo reconhecida, o seu trabalho precisa ser impecável, até mesmo perfeito. Já para alguém branco essa cobrança desce de nível, afinal, é necessário dar oportunidades para a evolução. Essa mudança de comportamento é parte do privilégio branco, é quando a sua cor pode te beneficiar no meio acadêmico ou no mercado de trabalho.
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A personificação do privilégio branco
Algumas pessoas até mesmo são consideradas exemplos neste quesito. E – pelo menos na minha humilde opinião – a Rafa Kalimann é bom exemplo disso. E, mais uma vez, isso não é uma crítica ao caráter ou à pessoa em si, é apenas como o sistema opera. Quem assistiu a influencer no BBB20 sabe que ela conseguiu cativar fãs fieis, era boa no jogo, tinha uma aliada de peso, a Manu Gavassi, soube priorizar essa amizade, sabia argumentar e, enfim, se tornou uma pessoa interessante de ser assistida.
Então, para a proposta do programa, ela cumpriu um papel essencial. Mas desde então segue tentando uma carreira como apresentadora em grande escala, a própria emissora aposta muitas fichas nela, perdoa os erros e segue dando as “segundas” chances. Ao mesmo tempo, é uma das empresas que demitiu grande parte de seu efetivo por muito menos e que, sejamos sinceros, quase nunca dá espaço para seus atores, humoristas e apresentadores negros.
Mas então é só isso?
Provavelmente alguém já deve estar pensando em uma resposta para dizer que só esse exemplo não se qualifica em privilégio branco e realmente por muitas vezes o buraco consegue ser muito mais fundo.
Viver como se a raça não importasse é um privilégio, entrar em uma loja com uma mochila sabendo que o segurança não vai te seguir também. Poder questionar o policial ou então saber que não será enquadrado em uma abordagem truculenta são outras situações que configuram essa “sorte” que os brancos têm.
Em cada pequena coisa que acontece, existe a força dessa ordem e do sistema, que foi construído para manter os brancos nos locais de poder e, de certa forma, para se proteger.
“O que nós conquistamos não foi porque a sociedade abriu a porta, mas porque forçamos a passagem”
Conceição Evaristo para a revista Marie Claire.
Inclusive, a escritora Conceição Evaristo também pode ser um exemplo. Até hoje não conseguiu entrar para a Academia Brasileira de Letras, mesmo sendo excelente em seu trabalho, mas outros conquistaram uma vaga. Além disso, é importante lembrar que o privilégio branco não acaba quando um negro consegue ocupar e conquistar algo porque estas devem ser ações coletivas.
Abaixo temos um trecho da entrevista de Silvio Almeida no Roda Viva, comentando sobre a necessidade dos brancos admitirem o seu lugar privilegiado.
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A conclusão de sempre
O privilégio branco está ao nosso redor, para quem quiser ver – e alguns não querem. Afinal, enxergar isso é incômodo, é bater de frente com as certezas do mundo da branquitude. Poder viver longe dos assuntos difíceis também é outra vantagem. Uma criança preta é obrigada a lidar com racismo, diferenças e mais um pouco muito cedo e um homem branco é sempre visto como alguém indefeso.
A pergunta que fica é se em algum momento isso vai mudar.