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terça-feira, 03 outubro 2023
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Paulo Mileno resgata o pensamento nagô e o quilombismo em Jacarepaguá

O ator e produtor cultural, Paulo Mileno, captou os recursos para realizar o seu primeiro documentário, como diretor e roteirista, intitulado ‘Encruzilhada entre Terreiro e Quilombo em Jacarepaguá. Ressignificação Civilizatória no Sertão Carioca’. Trata-se de um documentário financiado pelo Programa de Fomento À Cultura Carioca (FOCA) da Secretaria Municipal do Rio de Janeiro através da Linha 01, na categoria Pesquisa & Inovação em 2021, sendo selecionado com nota de 97 pontos. 

O filme contempla um recorte da história do bairro de Jacarepaguá que é desconhecido pelos próprios moradores do bairro. Algumas locações são praticamente inacessíveis para a grande maioria da população que é “cria” ao exemplo da Fazenda da Baronesa da Taquara,  as ruínas da Fazenda do Rio Grande, a Fazenda do Engenho D’água e o Patrimônio Histórico da Colônia Juliano Moreira, ainda que esses dois últimos locais sejam abertos ao público. 

Sendo intitulado como encruzilhada, a temática do documentário aborda a interseccionalidade entre o Território de Jacarepaguá (onde as filmagens foram realizadas em sua totalidade), o Patrimônio Histórico, O Quilombismo e o Pensamento Nagô.

De carácter bairrista, autoral, e universal como o seu próprio quintal, Paulo Mileno traz para as telas um bairro central para a economia e produção cultural do Rio de Janeiro, tendo como premissa o élan pujante civilizatório negro face a resistência secular dos povos africanos nas Américas que deve servir como exemplo de revisão histórica e de transformação social no Brasil.

Um dos legados de luta totalmente apagado dos livros de história foi o protagonismo que o povo escravizado e quilombola teve por essas terras ao longo dos séculos. O professor de história, Renato Dória, documentou, na página do Instituto Histórico da Baixada de Jacarepaguá (IHBAJA), a rebelião negra que explodiu por esses lados durante o Brasil Colônia.

Entretanto, esse apagão é compreensível posto as condições que são dadas às comunidades negras e indígenas para que não tenham referência da sua força ancestral.

Nesse sentido, o documentário quer combater o apagão e o arrastão ideológico, bem como nos ensina o mestre Jayro Jesus, um dos personagens do filme. Numa entrevista inédita, trazemos também um depoimento do militante histórico do movimento negro Luiz Carlos Gá que “voltou para casa” recentemente. Gá explicou o que é o Quilombismo e como devemos nos reontologizar.

Entre outras entrevistas originais, o documentário também traz uma entrevista inédita com a atriz Léa Garcia onde o público poderá conhecer um pouco mais dessa diva do teatro, da televisão , do cinema e do combate ao racismo.

Com seus 90 anos completados em 11 de março de 2023, a própria atriz nos revelou que o fato histórico dela ter alterado o texto de sua personagem sobre o Quilombo dos Palmares na novela Marina (1980) com a ajuda de outros militantes do movimento negro do Instituto de Pesquisa das Cultura Negra (IPCN), Amauri Mendes e Yêdo Ferreira, foi muito pouco comentado.

A questão colocada é essa. A narrativa. Coincidentemente, a maior emissora da América Latina, Rede Globo, é sediada em Jacarepaguá, assim como a Record. Ambas estão situadas na estrada dos Bandeirantes, um nome que nos remete ao Brasil Colônia, pelo ponto de vista do colonizador.

Pelo ponto de vista do Quilombismo e do Pensamento Nagô, o documentário ‘Encruzilhada entre Terreiro e Quilombo em Jacarepaguá. Ressignificação Civilizatória no Sertão Carioca’ quer ser uma obra de arte que contribua para a ressignificação civilizatória, deslocamento epistemológico e agenciamento do povo que é a cara do Brasil, que construiu essa nação.

Poderemos entender esse filme  como um prisma disruptivo dos valores perpetrados pelo mundo Ocidental. Afinal, como nos ensina a diva Léa Garcia em entrevista à jornalista Maria Fortuna em 29 de julho de 2022 “Quem precisa aprender é o lado de lá, porque vergonha não é ter passado por uma condição de escravo, mas, sim, de colonizador”.

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Thais Prado
Thais Pradohttp://www.todosnegrosdomundo.com.br
Remanescente de quilombolas, do quilombo da Caçandoca em Ubatuba, formada em Jornalismo, pós graduada em Comunicação Digital e Redes Sociais e formada em Diversidade e Inclusão Social em Direitos Humanos pela USP.
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