Olá! Que bom encontrar você por aqui.
Se você está sempre aqui no TNM deve me conhecer de algum vídeo, reportagem ou entrevista. Se você nunca me viu mais preta, então muito prazer. Eu sou CrisGuterres e este espaço aqui no site eu conquistei com coragem. A partir de hoje, toda terça e quinta eu escrevo o #BemPreta por Cris Guterres.
Essa coluna é, como o próprio nome diz, sobre ser bem preta. Sobre ter orgulho de ser preta e querer contar aos quatro ventos as histórias de representatividade que me fizeram chegar até aqui.
Eu sempre quis ter uma coluna num jornal ou num site, esse era mais um dos meus tantos sonhos. Ou seja, você está participando da realização de um sonho.
Não é emocionante isso?
Tudo bem, talvez você não ache emocionante.
Talvez você ache ridículo.
Eu também achei ridículo por muitos anos.
Passei tempos da minha vida acreditando que meus sonhos eram ridículos e que eu não era digna de realizá-los. Eu não sei muito bem como isso aconteceu, mas fui me sentindo cada vez mais pequena e escondi meus sonhos de todos e da única pessoa que eu não poderia ter escondido, eu mesma.
Eu venho de um país onde a maioria das crianças negras como eu não sabem que elas podem ser o que elas quiserem, não sabem que elas podem sonhar alto.
Conheço muitas enfermeiras negras que sonhavam em ser médicas, mas elas deixaram que alguém as convencesse que jalecos brancos de medico não vestiam corpos de mulheres negras. Conheço muitos negros que sonharam em ser juízes, mas se convenceram de que a justiça não nasceu para eles. Histórias como estas nos foram contadas durante anos e anos e muitos de nós fomos acreditando. São as mentiras que nos contam para que a gente não se liberte.
Meu pai dizia que eu teria que ser duas vezes melhor para ter metade do que os outros tinham. E ele sempre completava essa fala dizendo que eu era capaz, era só eu começar a trabalhar. Nunca achei justo que por ser negra eu teria que lutar tanto, trabalhar tanto pra conseguir menos. Mas já que eu teria que trabalhar duas vezes mais pra ter metade então eu decidi, alguns anos depois que meu pai se foi, que eu ia trabalhar quatro vezes mais pra ter tudo o que é meu de direito. E se for preciso, sempre é, ia lutar cinco mais pra que meus descendentes não precisassem lutar tanto.
Há algum tempo eu arrumei um caderninho. Eu o chamo de caderninho dos desejos. Nele eu escrevo o que eu quero pra mim, sempre lembrando das sábias palavras de meu pai. Tem momentos que escrevo todos os dias, momentos em que escrevo de vez em quando, mas é primordial que eu sempre escreva nele os meus sonhos. Não posso me dar ao luxo de esquecer de onde venho e pra onde vou.
Quanto mais eu escrevo, mais profundo viajo dentro de mim. Quanto mais escrevo mais me conheço e quanto mais me conheço mais me fortaleço. Foi depois do caderninho que passei acreditar nos meus sonhos. Só depois de ter escrito muitas vezes que eu queria estar aqui que eu tomei coragem pra chegar até aqui.
Autoconhecimento é uma arma nas mãos de qualquer ser humano. Autoconhecimento liberta. Já se perguntou porque não ensinam nossa história na escola? Porque não contam sobre nossos heróis pretos? Porque eles sabem que o conhecimento sobre a nossa história é capaz de nos libertar.
Mas voltando a falar sobre sonhos… Onde estão os seus? O que você quer pra você?
Se você tem alguma crítica ou sugestão é só comentar.
Ahhh, anota o meu nome aí no seu caderninho, você ainda ouvirá falar muito de mim.
Cris Guterres
A foto que ilustra este texto é do fotógrafo baiano Tiago Borba e faz parte da série Black is Beautful. Acompanhe o trabalho de Thiago através do intagram @t_borba.