A Grace Note [Nota de graça] é concebida como um ritual de agradecimento no qual Muyanga executa uma partitura em sintetizadores modulares acompanhado por membros do Coletivo Legítima Defesa, que declamam poesias de Maurinete Lima.
O ritual culmina com um canto coletivo liderado por Muyanga, com a participação do público, do emblemático hino Amazing Grace (escrito em 1772 pelo ex-traficante de escravizados e posteriormente abolicionista, John Newton), condensando uma viagem de reflexão de dois anos sobre o impacto dessa música nos movimentos para os direitos civis de pessoas negras no mundo. A performance inclui o canto de partes da composição produzida por Muyanga a partir da partitura original de Amazing Grace, publicada pela editora IKREK.
Além disso, é o terceiro capítulo do projeto de Neo Muyanga ao longo da 34ª Bienal de São Paulo. O primeiro foi a performance A Maze in Grace, apresentada na abertura da exposição, em fevereiro de 2020, que deu origem à instalação atualmente exibida no Pavilhão Ciccillo Matarazzo; o segundo capítulo é o vinil A Grace Project, lançado neste ano na Bienal de Liverpool, instituição parceira da Fundação Bienal de São Paulo em ambos os momentos da obra.
Sobre os artistas: Neo Muyanga
Compositor, artista sonoro e libretista, Neo Muyanga (1974, Joanesburgo, África do Sul) produz obras que ecoam os sons de um tempo presente enraizado na violência e nutrido pela revolta. Com uma obra que perpassa a nova ópera, a improvisação em jazz e canções tradicionais Zulu e Sesotho, desenvolve uma pesquisa contínua acerca de diversas sonoridades que compõem a história da canção de protesto no contexto pan-africano e diaspórico. Recentemente, essa investigação o levou à intricada história do hino cristão “Amazing Grace” [Graça sublime], escrito pelo poeta e clérigo inglês John Newton, em 1772.
Maurinete Lima
Maurinete Lima nasceu em 1942 em Recife e faleceu em 2018. Socióloga, poeta, ativista, professora da UFRN, foi mestra pela USP e técnica da Sudene, além de fundadora da Frente 3 de Fevereiro. Começou a frequentar slams e saraus em 2013, e escreveu os poemas posteriormente reunidos em Sinhá Rosa. Atuou no movimento feminista interseccional.
34ª Bienal de São Paulo traz mais artistas negres e indígenas
Faz escuro, mas eu canto
O tema “Faz escuro, mas eu canto” é uma homenagem à poesia escrita por Thiago Mello. Poeta e amazonense, Thiago escreveu o verso na década de 1970 quando o país passava por instabilidade política e repressão. Ainda assim, anos depois, o trecho se encaixa na realidade. Essa conexão entre passado e presente é um dos focos da Bienal.
A 34ª Bienal passou por uma série de obstáculos, como a pandemia. A sua volta com exposições presenciais trouxe a sensação de que as coisas podem e vão voltar a se encaixar.
A equipe de curadoria foi composta por Jacopo Crivelli Visconti, Paulo Miyada, Carla Zaccagnini, Francesco Stocchi e Ruth Estévez. A mostra reconhece a urgência dos problemas que desafiam a vida no mundo atual, enquanto reivindica a necessidade da arte como um campo de encontro, resistência, ruptura e transformação.
Essa edição também contou com um número maior de artistas pretes e indígenas. Mesmo ainda não sendo o ideal, foi uma maneira de mostrar que a arte é de todes. Encerrando o ciclo, com os três meses, a 34ª Bienal de São Paulo merece ser lembrada e prestigiada.
Informações
Quando: 5/12 (domingo), 18h
Local: obra deposição, 1º pavimento. Pavilhão da Bienal – Parque do Ibirapuera.
Duração: 60 minutos
No site da Bienal é possível se informar sobre a programação completa da última semana da exposição.