Por Carol Lee Dutra
O que o futuro negro tem a ver com filmes que retratam o universo de pessoas pretas e de pessoas não pretas?
Filmes como Rafiki (obra cult disponibilizado pela Claro Net) e Emily in Paris (série fashionista disponibilizada pela Netflix) são deliciosos entretenimentos, porém são ótimos exemplos do que são diferenças culturais e estética sob a ótica de pretos e não pretos.
Importante, afirmar que não há nada de errado em que negros/pretos assistam a filmes como Emily in Paris , o ponto relevante é deixar de ver filmes pautados na estética negra para consumir somente filmes que retratem a estética branca.
Onde enxergamos a nossa identidade?
Filmes como RAFIKI?
Filme estrelado em 2018 retratado no Quênia dirigido pela africana Wanuri Kahiu e divulgado no Festival de Cannes.
A novidade desta obra comparada aos estereotipados filmes estrangeiros que geralmente se resumem a miséria, violência e morte nos países africanos, é retratar o cotidiano de pessoas pretas em sua normalidade, isto é, pessoas que estudam para serem médicas ou o que queiram ser, trabalham, namoram, se apaixonam, tem dúvidas quanto ao futuro, concorrem a cargos políticos e são donos de negócios.
A obra nos ganha por exibir uma estética moderna e quase futurista do universo de meninas africanas com tranças coloridas, búzios no cabelo e uso de acessórios com material que lembram o ouro, a prata, o cobre e o marfim bastante comuns na indumentária de nossos ancestrais. O filme é conduzido numa linguagem urbana com vários elementos da cultura pop, numa fotografia sincera de bairro simples no Quênia. O estilo das protagonistas exibem vários elementos de moda, beleza e estética negra que enchem os olhos de pretas e pretos pela identificação imediata com as personagens.
Filmes como EMILY IN PARIS?
Enredo criado pela atriz americana ( Lilly Collins) que faz a protagonista onde narra o cotidiano da personagem Emily que muda-se dos EUA a França para fazer parte da equipe de marketing de uma agência que atende à marcas de luxo. Emily embora bem jovem já é assistente-executiva de marketing, posição conquistada através do QI de sua chefe americana. Entretanto, o ponto alto do filme (que virou série tamanho o sucesso) é a ostentação de peças de grifes luxuosas vista nos looks do dia a dia da protagonista e de suas amigas ricas.
A observação relevante no filme é ter um único personagem negro no elenco principal que trabalha com Emily, porém em outra função, seguindo ordens de uma esnobe francesa, dona da Agência.
Afinal, qual relação podemos fazer entre Rafiki, Emily in Paris e o futuro preto?
A relação está em nossas escolhas de referência e identidade, é traçar uma linha do tempo de onde estamos e aonde queremos chegar. E se partirmos do principio do Movimento Afrofuturista em que pretos recuperem a história negra de nossos ancestrais reis e rainhas e a partir daí reprogramem seus pensamentos imaginando soluções que considerem o futuro composto pelo protagonismo negro em todos os setores, onde devemos procurar inspiração para fazermos parte deste movimento?
Temos duas escolhas, e aí entram os filmes citados como exemplo;
- devemos perpetuar hábitos em consumir filmes que retratem a fantasia de países colonizadores de estética branca elitizada e culturalmente muito diferentes da nossa cultura e que os únicos personagens semelhantes a nossa estética geralmente ocupam cargos de subserviência?
- ou devemos consumir mais filmes que retratem a realidade próxima ao povo preto, de forma não estereotipada, em que as pessoas pretas são as protagonistas, esteticamente bonitas de acordo com as particularidades de nossa raça, que valorizem a textura de nossos cabelos, que façam uso de roupas e acessórios inspirados em nossa ancestralidade, que concorram a cargos políticos, que namorem, quem trabalhem, que almejam serem médicos ou que sejam donos do negócio?
Futuro Preto está em nossas mãos!
Concluímos, que o futuro negro está literalmente em nossas mãos, quando programamos nossas mentes para o que almejamos para o futuro, isto é, consumindo obras que nos conectem as nossas origens e nos inspirem a uma realidade onde o protagonismo seja negro em todos os setores, entretanto se continuarmos a perpetuar velhos hábitos em programar nossas mentes somente com filmes que retratem a estética branca como sinônimo de sucesso, beleza e glamour, em que pretos permaneçam no papel de coadjuvantes e submissos a elite branca, é o que permanecerá em nosso futuro.
Façamos nós, a diferença, no presente.