Com o ingresso de minorias nas melhores universidades do mundo, surge a latente preocupação com a descentralização do saber. O público excluído dos processos sociais, econômicos, culturais e políticos percebe a necessidade de levar o conhecimento para o lugar de origem, mas encontra o empecilho sobre a produção acadêmica, devido principalmente à linguagem pouco democrática de disseminação da informação.
O estudante Obasi Shaw, da prestigiada Universidade de Harvard, no entanto, quebra essa construção acadêmica a partir do primeiro álbum de rap apresentado como tese final de curso. Inspirado pela exposição das questões de raça, identidade e religião no estilo musical, Shaw produziu um álbum de 10 faixas intitulado Liminal Minds, que será defendido na próxima semana.
Para o site The Telegraph, Obasi explicou a proximidade entre poesia e rap, defendendo que esse tipo de música nada mais é que “uma forma de arte”. Aliás, boa observação: embora a essência da poesia e do rap sejam tão semelhantes, existe ainda uma construção sociocultural que distancia o movimento hip hop, em geral, da concepção de arte.
Numa de suas faixas, Abra seus olhos, Shaw denuncia a história que os livros tentam apagar, citando os grandes feitos do povo negro: “Basta olhar para os tronos, nosso povo é conhecido. Fazendo a história do impossível. Do rap à Casa Branca, nós somos imparáveis”. Prova disso é o próprio estudante, o primeiro de Harvard a ousar no formato de sua tese, segundo ele por sugestão da mãe.
“[Os afro-americanos são] livres, mas os efeitos da escravidão ainda existem”, disse Shaw ao Harvard Gazette. Apesar da criatividade e da representação dos guetos em sua tese, o norte-americano não deseja seguir carreira na música após a graduação. De qualquer forma, o recado foi entregue: “Cada canção é uma exploração desse estado entre a escravidão e a liberdade”, declarou.