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terça-feira, 03 outubro 2023
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Em vídeoclipe, Jonathan Ferr traz ator Aílton Graça como primeiro presidente negro do Brasil

Precursor do urban jazz no Brasil e reconhecido por inserir elementos de outros ritmos em suas produções, o músico afrofuturista Jonathan Ferr apresenta ao mundo seu novo álbum, “Liberdade”. Com participações especiais em todas as 10 faixas, das quais 9 são inéditas – a única já conhecida do público é “Lá Fora”, com Coruja BC1 e Zudizilla -, o projeto chegou às plataformas de áudio na sexta-feira (27) pelo slap, selo da Som Livre, e representa mais um passo em direção à democratização do gênero instrumental – uma das principais bandeiras do pianista carioca.

Por meio de parcerias com nomes que imprimem diversidade na música brasileira, como Luedji Luna, Kaê Guajajara, Rashid, Tássia Reis e Tuyo, Jonathan busca explorar o conceito de liberdade em diferentes frentes. O músico multi instrumentista leva o ouvinte a um mergulho profundo, que reflete muito de Ferr enquanto artista, mas que também pretende provocar a quem ouve, além de estimular a propagação dessa expansão de consciência. A música de trabalho “Meu Sol”, que aposta na parceria com rimas do rapper Rashid intercaladas pelo refrão cantado pelo duo Àvuá e pelo próprio Jonathan, uma das novidades neste novo trabalho, chega também com videoclipe no dia do lançamento. O roteiro é de Ferr, que também assina a co-direção ao lado de Leo Ferraz. O ator Aílton Graça é o protagonista convidado para a produção, que aposta em uma narrativa sobre a posse do primeiro presidente negro do Brasil. Jonathan aparece como um ativista do partido ‘Irmandade’, uma brincadeira que ele já apresenta em seus shows. A música fala de esperança e preencheu os bastidores do videoclipe com muita emoção.

O álbum apresenta vocais em 9 das 10 canções, sendo 90% cantado por mulheres, e Jonathan faz sua estreia como cantor em três faixas: “Temos participações em nove faixas e em algumas eu canto também, então esse álbum inaugura ainda um outro Jonathan, experimentando possibilidades além do instrumental. O disco começou a ser produzido quando eu fui morar em São Paulo, em 2021, e eu já estava intuindo a ideia de fazer um álbum novo, que iria surgir a partir de ‘Cura’, com samples e beats. Eu já tinha também esse nome na minha cabeça, ‘Liberdade’, e aí essa troca de cidade foi também um laboratório de mim mesmo. Me experimentar em outra cidade, outras músicas, possibilidades, conhecendo novas pessoas”, explica Ferr, frisando que o nome do álbum dá todo o significado deste novo trabalho, e passa por diferentes camadas.

Com relação às parcerias – quase que 100% delas com artistas negros e indígenas – o músico não nega a vontade de expandir seus horizontes e furar a bolha elitista da música instrumental. “As participações se deram de uma maneira muito fluida e natural. Têm pessoas que já estão no meu círculo de amizades, outras que eu fui conhecendo ao longo do caminho. Acredito também que ter tanta gente bacana e diferente envolvida vai poder fazer esse trabalho chegar em mais pessoas, e ficarei feliz que elas se conectem com as coisas que eu estou propondo”.

O disco se inicia com a faixa “Correnteza”, uma produção puramente instrumental – a única entre as 10 músicas do álbum -, que apresenta um mix de influências do jazz, rap e R&B. Ela abre o trabalho trazendo o significado da fluidez, da força da água, esta que está presente em diversos títulos do projeto, e que vem de encontro ao conceito e também título do disco.

A segunda faixa traz o nome do disco, “Liberdade”. É logo de cara que os fãs de Ferr são imersos na provável maior novidade do projeto: a música é cantada e traz em um feat com a cantora indígena Kaê Guajajara, que fala sobre o conceito da não-monogamia aplicado às relações amorosas. Mas engana-se quem pensa que a inserção das vozes deixa os acordes do piano em segundo plano. Em todo o álbum, o equilíbrio entre as partes – piano, beats e vozes – é esteticamente harmonioso e confunde a escuta no bom sentido, uma vez que fica difícil rotular a sonoridade, fazendo ruir os limites entre jazz e as vertentes da música urbana, como o R&B.

Em seguida, “Rio Nilo” traz a voz da baiana Luedji Luna e da jovem rapper paulista Stefanie, que escreveu as rimas homenageando seu filho. A música de trabalho, “Meu Sol”, é a quarta faixa do álbum. Mais uma vez com a água fazendo presença, “Mar Profundo” fala da intimidade como ferramenta de emancipação, numa metáfora com as águas profundas do mar. Os vocais são protagonizados pelo trio Tuyo. O single “Lá Fora” (ft. Zudizilla e Coruja BC1), é um boombap misturado aos acordes do piano e também traz a voz de Ferr.

Outra novidade de Ferr é a faixa “We Never Change”, com participação da cantora britânica Jesuton, é a única faixa toda cantada em inglês do álbum, que traz um vibe dos anos 90, bastante romântica para o projeto. Uma das preferidas de Jonathan, a canção “Preterida” traz as vozes das jovens de Salvador Melly e Iuna, e fala sobre a demonstração de sentimentos e da fragilidade. “Gota”, a penúltima canção do disco, chega com a participação de Tássia Reis e do beatmaker Black Alquimista e é inspirada na oração de São Miguel, presente em diferentes religiões.

O disco encerra com “O amor não morrerá”, produzida com Lóssio, em que Ferr canta sozinho fazendo da letra um resumo de todo o projeto, deixando a provocação: o que é liberdade para você? “Falar de liberdade é falar de algo que é inerente ao ser humano. Espero que as pessoas possam se conectar tanto quanto eu tô conectado com esse tema, e a partir disso possam gerar outras coisas, situações, debates, álbuns… Esse projeto é uma grande provocação, né? Do que é ser livre, do que é emancipar e ser emancipado”, diz o artista, deixando claro que a natureza do novo trabalho é também coletiva.

Jonathan é responsável por toda produção sonora do álbum, e além do piano, o músico também está no comando dos baixos synth, dos sintetizadores e dos pianos rhodes.

“A ideia sempre foi fazer uma música que fosse genuinamente minha, que eu ouvisse e me conquistasse antes de qualquer coisa, com conexões profundas, e também que as pessoas pudessem ouvir e se conectar com elas mesmas. E quanto mais o tempo passa, mais esse objetivo fica claro pra mim. Trazer agora o universo do hip-hop, o beat e a letra é uma coisa que eu já pensava há um tempo. Eu não sabia quando nem como ia acontecer, mas é muito bom poder realizar isso nesse momento, em que eu me sinto ainda mais maduro para poder trazer também as pessoas incríveis que estão colaborando nesse álbum. É ser livre tanto no ato de samplear a mim mesmo – sendo o sample um tema às vezes tão controverso e polêmico na indústria musical -, quanto nas misturas sonoras, em que eu estou buscando um lugar disruptivo, fora dos estereótipos do que é jazz”, discorre Ferr sobre a inserção de novos elementos em suas composições, que contam ainda com um ‘auto-sampleamento’ das faixas de seu álbum anterior, “Cura”.

Furar a bolha, aliás, é algo que Ferr já tem feito. Coroando a boa receptividade de sua música pela cena mainstream, recentemente o artista foi indicado ao Prêmio Multishow 2022 na categoria “Melhor Instrumentista”, além de ter integrado o line-up do Primavera Sound, festival internacional de música que aconteceu em outubro e novembro no Brasil pela primeira vez, em São Paulo. “Eu estou muito feliz! Sou um cara preto, pianista, de Madureira (bairro da cidade do Rio de Janeiro), então a música que eu faço, que vem do subúrbio, é disruptiva por si só, nasce em um lugar totalmente diferente do que esperavam de mim. Poder ver minha arte chegar em vários lugares do Brasil e do mundo, em palcos como o Primavera Sound e o Prêmio Multishow, me faz pensar que tô chegando em espaços que eu não imaginava que pudesse quando eu comecei”, reflete Jonathan.

Espiritualista, o músico não esconde as expectativas sobre o lançamento. “Eu sempre quero entregar o melhor do melhor, e o meu melhor é sempre o próximo trabalho. Então esse é o melhor disco da minha vida até aqui. Estou entregando tudo que eu posso, e esse projeto é fruto de muita pesquisa sobre o tema liberdade. Eu fui ler, estudar, participar de rituais, falar com outras pessoas, irmãos, budistas, pessoas de religiões de matriz africana, pai de santo, pastor, enfim. Além disso, existem muitos significados neste momento de lançamento. O disco chega depois das eleições e do Mês da Consciência Negra aqui no Brasil, então tem muito simbolismo nessa ideia de liberdade. E a minha expectativa é altíssima, tô muito animado! Acredito que a principal missão de uma obra artística é deixar um legado, que é o que eu espero alcançar”, conclui.

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