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terça-feira, 03 outubro 2023
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Do blackface ao blackskin – pelo fim dos estereótipos

No último dia 21 (sábado), o espetáculo “Trem de Minas”, no Teatro Raul Belém Machado, contou com um fechamento especial. Um grito de protesto reivindicou respeito aos artistas negros e a forma como somos representados nos palcos. O manifesto contra o blackface utilizado na peça tornou possível relembrar o quanto o protagonismo ainda é necessário e o quanto estamos distantes do fim desses estereótipos.

"Trem de Minas". Foto: Reprodução
“Trem de Minas” e o personagem de meias pretas e pele pintada. Foto: Reprodução

Além do rosto pintado, um dos protagonistas utilizava, ainda, uma roupas e acessórios da cultura negra de forma bastante caricata, evidenciando o papel como forma de satirizar não somente a pessoa negra, mas também tudo o que lhe foi atribuído por sua expressão cultural. Diante disso, de punhos cerrados, cidadãos e artistas negros repudiaram a prática adotada por atores brancos para representar personagens negros, como se a cor fosse configurada como uma espécie de fantasia. 

No Brasil e no mundo, muitos artistas se valem do blackface para representar seus papéis, o que revela a ridicularização do negro em primeira escala e, em segunda, a sua exclusão: não se pinta o rosto de preto apenas para tirar sarro do fenótipo da população negra, mas ainda para que ela não seja inserida nas peças teatrais, fazendo valer a representatividade.

Personagem de Êta Mundo Bom, com o rosto pintado. Foto: Divulgação
Personagem de Êta Mundo Bom, com o rosto pintado. Foto: Divulgação

A prática racista surgiu dentre os séculos XVII e XIX nos EUA, com o objetivo esdrúxulo de ridicularizar pessoas negras em shows populares frequentados por brancos. Hoje há quem considere o blackface apenas uma forma de expressão dentro das artes cênicas, como provavelmente é o caso dos atores em cena em “Trem de Minas”. A pintura preta num rosto branco não parece a nós, negros, uma forma criativa do campo cênico, mas reforça a falta de respeito aos atores negros que se dedicam a subir nos palcos e compensar os mais de 500 anos de exclusão que vivemos.

Segundo o diretor Luiz Antônio Pilar, “Esses pseudos-artistas, ao lançarem mão desse subterfúgio, prestam um desserviço ao teatro, não somente pelo preconceito inerente a esse tipo de cena e de representação mas, também, pela demonstrada falta de respeito à celebração maior do fazer teatral: a comunhão entre todos”.

Sabemos que nenhuma esfera da sociedade está ilesa a ideologias racistas, por isso ao invés de encarar de forma reativa, os artistas, assim como publicitários e outros profissionais formadores de opinião, deveriam conhecer mais as discussões sobre desigualdades estruturais no nosso país – mesmo sendo eles homens, brancos, cisgênero e de classe média ou alta. Após o manifesto lido pelos manifestantes negros, a produção não mais pintou o rosto de um dos atores, mas permaneceu a adotar uma meia preta nos braços e pernas, ainda imitando a pele negra. Agora, então, a moda racista será a blackskin, uma espécie de segunda pele através de tecido?

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