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terça-feira, 03 outubro 2023
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Dia do combate ao alcoolismo

Barulho da porta, não era mais ele. O cheiro anunciava a transformação. Sentava no sofá como se seu corpo fosse um fardo muito pesado. Minha mãe dizia que não era mais hora de ver tv. “Vai dormir”. Ele não ficava violento. Ficava fraco. Parecia querer fugir da própria existência. Minha mãe conta que ele não gostava do modo como eu olhava quando ele bebia. Não sei que olhar uma criança de 3 ou 4 anos pode ter sobre isso. Mas eu sabia que aquele não era mais meu herói. Meu pai saía para o bar e voltava outra pessoa. Sim, aquele também era ele, mas eu não queria que fosse. Ele, que deveria cuidar de mim, não conseguia levantar do sofá para dormir na cama. O cheiro, o ronco, a atmosfera. Tudo pesava. Não queria compreender. Não achava justo ele estragar as coisas que estavam boas. Piedade era o melhor que eu conseguia sentir. Já distante dele, cresci. E depois de sua partida para outro plano começo a compreender as nuances do Transtorno por uso de substância.

É um tema difícil porque esses transtornos na nossa sociedade são julgados moralmente. Então, além das questões químicas que o indivíduo tem que lidar, há todos os aspectos sociais que não são menos importantes. A busca por ajuda profissional é uma atitude essencial para que o tratamento ocorra, mas sabemos que para chegar a ele é preciso vencer os preconceitos e julgamentos morais que envolvem a questão. E para isso vale nos informarmos um pouco mais.

Segundo o DSM 5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), os transtornos por uso de substâncias ficam definidos como um agrupamento de sintomas cognitivos, comportamentais e fisiológicos que indicam que o indivíduo continua usando a substância a despeito de problemas significativos. Segundo o Manual, trata-se de um padrão mal-adaptativo de uso de substância, levando ao prejuízo ou sofrimento clinicamente significativo manifestado por um (ou mais) dos seguintes aspectos, ocorrendo dentro de um período de 12 meses.

  1. Perda de controle:
  • uso em quantidades maiores e por maior período de tempo;
  • desejo de diminuir ou regular esforços malsucedidos;
  • tempo gasto para obter, usar ou se recuperar;
  • craving (um desejo de repetir a experiência em função dos efeitos de uma dada substância).

2. Prejuízo Social:

  • falha com as obrigações de trabalho, casa ou escola;
  • uso a despeito de problemas sociais ou interpessoais;
  • redução de atividades sociais, ocupacionais ou recreativas importantes.

3. Uso de risco:

  • uso contínuo em situações de risco físico;
  • uso a despeito de conhecimento de risco físico.

4. Critério Farmacológico

  • Tolerância;
  • Abstinência.

Segundo Gigliotti e Copetti (2013), “O uso de álcool é um dos principais fatores de risco à saúde. É o responsável a cada ano por cerca de 2,3 milhões de mortes prematuras no mundo. (…) Mulheres e especialmente as mais jovens são a população mais em risco, apresentando maiores índices de aumento, entre 2006 e 2012, e bebendo de forma mais nociva. Quase dois terços dos homens jovens bebedores problemáticos já se envolveram em briga com agressão física no último ano. Das vítimas de violência doméstica no último ano, o uso de álcool estava presente em mais da metade dos casos e em mais de 2 a cada 10 tentativas de suicídio está relacionada com o uso de álcool.”

Foto: Reprodução
Foto: Reprodução

Nossa sociedade deveria dar uma atenção maior às questões que envolvem o consumo de álcool, já que trata-se de uma questão de saúde pública. Se você sofre com algum ou alguns desses aspectos, procure ajuda de um profissional. E se você conhece alguém que sofre, ou tem essa pessoa na família, ajude-a a buscar tratamento e busque também uma psicoterapia. Os danos emocionais e sociais desse transtorno infelizmente transcendem o indivíduo que o desenvolve. Por fim, penso que quanto mais buscarmos uma sociedade mais saudável, mais seus membros terão a possibilidade de uma vida saudável.

 

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