O time brasileiro de futebol feminino foi eliminado da Copa América pela França. Um jogo emocionante em que todo mundo jogou bem e acreditou até o final. O que não deu pra acreditar foi como a sociedade racista se manifesta sobre um cabelo crespo.
A craque francesa Wendie Renard, que jogou a partida do último domingo (23), é a terceira jogadora mais bem paga do mundo. Apesar disso, os brasileiros decidiram se manifestar sobre o seu cabelo a partir de comentários racistas nas redes sociais.
Renard foi chamada de prisioneira, pixaim, cabelo duro, dentre outras expressões racistas e cheias de risadas sobre o cabelo crespo da jogadora, que carrega seis vitórias da Champions League.
Wendie podia receber comentários sobre sua performance, seu cartão amarelo, sua técnica, sua performance aérea, sobre suas 13 taças da Liga Francesa, sobre seus 8 anos de seleção francesa, sobre sua liderança no time de maior sucesso no futebol mundial, o Lyon.
Mas, não. Os comentários dos brasileiros, que vivem no país onde não existe racismo – contém ironia -, decidiram atacar o cabelo crespo da zagueira da França. Na terra da falsa democracia racial, o racismo vem mascarado de opinião e tenta deslegitimar as expressões, a história e a resistência das mulheres e dos homens negros.
Quantas pessoas não deixaram de assumir seus cabelos crespos com medo de manifestações como essa? Quantas pessoas com cabelos como este não perderam vagas de emprego? Quantas crianças negras choraram pedindo para nascerem novamente, mas com um cabelo liso?
As manifestações contra Wendie nos colocam mais uma vez frente à discussão sobre como o racismo ataca o cabelo crespo, que foge aos padrões estéticos. E, mais do que isso, como a população brasileira usa o racismo como “entretenimento” e o quanto isso é perverso.