Após refletir sobre o homem negro da periferia, em Farinha com Açúcar (direção de Jé Oliveira), o Coletivo Negro embarca nas reflexões em torno do feminino negro contemporâneo.
Com uma equipe formada em sua maioria por artistas negras brasileiras, o Coletivo estreia seu novo experimento cênico IDA com dramaturgia da cineasta Renata Martins (Empoderadas), cenografia artista gráfica Nina Vieira (Manifesto Crespo), figurino da atriz Débora Marçal (Cia Capulanas de Artes Negras/Preta Rainha), direção musical da atriz-MC Dani Nega, iluminação da fotógrafa Dani Meirelles e assistência de direção da jornalista e atriz Maitê Freitas.
Em cena a atriz paulista Aysha Nascimento e a bailarina mineira Verônica Santos dão vida à Ida: mulher e jovem que a partir da construção de um projeto arquitetônico ousado, traça pontos e contrapontos com a possibilidade de reconstrução da humanidade das mulheres negras. Em sua narrativa, Ida se lembra dos momentos de invisibilidade que viveu no período em que cursou a universidade. Ao passo em que se questiona, Ida reconstrói sua identidade e religa-se às suas ancestrais.
A dramaturgia que marca a estreia da cineasta paulistana Renata Martins (Empoderadas) no teatro, traz duas atrizes dividindo a mesma personagem: Ida que tem a arquitetura como pano de fundo para refletir sobre o racismo estrutural e questionar os lugares nos quais as mulheres negras são sistematicamente e historicamente colocadas na sociedade. Ao apresentar um projeto arquitetônico contemporâneo, é questionada sobre a ausência do quarto de empregada em sua planta. Deste conflito, a personagem caminha numa jornada de desconstrução e evocação do legado dos movimentos negros feministas: o empoderamento.
No espetáculo, a dramaturgia une-se às narrativas corporais e musicais, onde as atrizes Aysha Nascimento e Verônica Santos dividem a cena com duas musicistas paulistanas: Fefê Camilo (percurssão) e Ana Gois (guitarra e saxofone).
De acordo com Aysha Nascimento, o projeto nasce do desejo de compartilhar a criação desse experimento com outras artistas negras as quais ela admira: “as artistas envolvidas são mulheres que militam e que fazem de sua arte um meio de expressão e desconstrução do machismo e racismo estruturais”.
“Não foi fácil se deparar com tantos conflitos e com estes lugares nos quais tentam impor, a nós, mulheres negras”, reflete Aysha. Para subsidiar a pesquisa e construção do espetáculo, o Coletivo realizou três encontros com mulheres negras de todos os segmentos sociais, políticos e culturais, entre elas a filosofa e Secretária Adjunta dos Direitos Humanos Djamila Ribeiro, as psicólogas Maria Lucia da Silva e Clélia Prestes.
O único homem presente no processo, Flávio Rodrigues assina a direção geral. Desafiado pela atriz e uma das fundadoras do Coletivo Negro, Aysha Nascimento, a provocar a cena, traduzir em teatralidade o texto contudente da cineasta e provocadora Renata Martins, o espetáculo é um hibrido de teatro e jazz, cuja direção musical é assinada pela atriz-MC e DJ Dani Nega.
A cenografia de Nina Vieira faz do reaproveitamento de madeiras e paletes, um espaço concreto e orgânico, de planos e contraplanos, alturas, linhas e estruturas para que a jornada de Ida possa ser narrada e dançada pelas atrizes que buscam no teatro-dança um meio de corporificar a história.
O experimento abre as portas para o público do dia 2 ao dia 12 de junho, na Casa de Teatro Maria José Carvalho, sede da Cia do Heliópolis.
Serviço
IDA
Casa de Teatro Maria José Carvalho – Cia do Heliópolis
Rua Silva Bueno 1523 (próximo ao metrô Sacomã)
de 2 a 12 de junho.
Quinta a sábado às 21h
Domingo às 19h
A entrada é gratuita e o teatro dispõe de 60 lugares. Os ingressos são distribuídos 1h antes do início do espetáculo.
Ficha Técnica
Dramaturgia: Renata Martins.
Direção Geral: Flavio Rodrigues
Elenco: Aysha Nascimento e Verônica Santos
Musicistas: Ana Gois e Fefê Camilo