Aprisionadas
Beleza Negra – Quando os padrões de beleza se tornam uma prisão
Por Vanessa Sudré
Hoje eu não vim exatamente dar dicas de maquiagem ou de como arrasar na sua próxima festa. Vim falar sobre como a beleza, ou melhor, os padrões de beleza podem te aprisionar.
Se atingir padrões de beleza já é algo difícil, imagina alcançar padrões de beleza negra, quando o ideal ainda foge à cor da pele? Já te adianto que em ambas as situações, é algo impossível.
Eu acredito que, no fundo, o que todo mundo busca é aceitação. Aceitação por si mesmo, aceitação pelos amigos, pela família ou pela sociedade. Mas se aceitar é um processo que pode ser muito difícil quando o espelho que a maioria das pessoas aceita como “normal” ou “ideal”, é diferente do que o espelho da sua casa te mostra.
O problema geralmente começa quando você sequer tem idade e capacidade de entender que você precisa se amar do jeitinho que você é, e não ficar se comparando com a menina dita “a mais bonita da escola”. Olhos grandes, lábios fartos, magra, gorda, baixinha, alta, cabelo duro, dentuça, nariguda… qualquer que tenha sido esse terrível “defeito”, você provavelmente carregou ele com você para sua adolescência.
Os comerciais que passavam na TV, as propagandas…. Todas as meninas pareciam ser tão lindas! E tão diferentes de você…. Por quê?
Aí você começa a crescer. Chega a adolescência, o corpo muda e mais problemas de aceitação podem aparecer, porque o nível de exigência sobre o que é “bonito” fica ainda maior. As propagandas e anúncios trazem como ideal aquela beleza (quase que angelical) de meninas que continuam não se parecendo com você.
Eu cresci em uma época em que havia ainda menos referências de Beleza Negra como sendo algo “bonito”. O bonito sempre foi a loirinha de olhos azuis, que todos diziam parecer um anjo, de tão linda. A festa junina na escola era sempre algo bem previsível…. Adivinha quem sempre era a noivinha na quadrilha (dança)? Com certeza, a pretinha não era. Só vi isso acontecer uma única vez. E tudo isso porque a beleza dela não era tida como o ideal…
Calma, não cresci com ódio de ninguém por isso…rs! Tenho amigas pretas, brancas e cor de abóbora, e amo todas de paixão. Digo isso apenas para ilustrar e voltar ao ponto onde queria chegar. O que é ser bonita? É investir em cirurgias plásticas para corrigir aqueles “defeitinhos” que te traumatizam desde criança? É se privar de comer porque gordinhas não são bem aceitas? É deixar o cabelo preso porque tem muito volume?
Quando eu disse que todos, no fundo, buscam aceitação, era disso que eu estava falando. Buscar formas de se sentir mais bonita não é errado. Errado é fazer isso buscando o padrão de beleza dos comerciais de margarina, em que o mundo parece perfeito e feliz. Mudar por fora e não mudar por dentro, de nada adianta.
Os padrões de beleza podem te aprisionar se você continuar buscando o rosto perfeito, o corpo perfeito. Está tudo dentro da sua cabeça. Acredite, o pior defeito é aquele que você tem na sua alma ou no seu caráter. Porque nesses, muito pouco há de se fazer pra consertar.
Quantas e quantas vezes eu já maquiei mulheres que ao sentar na cadeira, a primeira coisa que me disseram foi “Tem como disfarçar meu nariz? Ele é muito achatado”, “Meus olhos são muito grandes, tem como deixar menor?”.
A maquiagem que te transforma é legal? Claro que é! Mas sabe qual a minha paixão quando maquio alguém? Deixá-la linda de uma forma natural… Aquela beleza que você olha no espelho, e ainda consegue se reconhecer, uma nova versão de você mesma e não uma máscara.
Gata, comece a usar o que você acha ser seu ponto negativo como sendo seu ponto mais forte! Os cabelos começaram a se libertar, porque apesar da crítica de alguns, conquistaram o “direito” de andarem soltos e desfilarem estilo e beleza. A maquiagem precisa ser menos corretiva e mais atrativa, destacando suas qualidades, e não escondendo seus defeitos. Entendem a diferença?
Os padrões de beleza pregados por aí são cheios de Photoshop, não são reais. São caminhos comerciais, e não pessoais.
Sabe por que o que você vê na televisão e nas revistas mostra mulheres tão diferentes de você? Porque tudo aquilo não foi feito POR você, mas PARA você. Ou, às vezes, não temos sequer este PARA, porque foram feitos para mulheres que simplesmente não existem. É o que imaginam de você, e não o que você é. Todas as empresas são mentirosas então? Claro que não. Mas cabe a você distinguir o que te define ou não.
A busca pelo dito “ideal” é um caminho sem fim. Por mais que todos digam que você está perfeita do jeito que é, você sempre vai achar que pode melhorar um pouquinho mais aqui ou ali. Então, vamos nos aceitar? É um exercício diário, mas que vale a pena!
Bonito é ser você mesma! Sem amarras, sem padrões descabidos, sem prisões. Quem define seu padrão de beleza… é você!
Beijos e até a próxima!
Vanessa é maquiadora e produtora de TV e publicidade. Paulistana, há alguns anos resolveu que era hora largar o ar condicionado e planilhas dos escritórios, para trabalhar com o que a faz feliz. Make, moda, beleza e com a loucura do mundo audiovisual. Vanessa é professora de auto maquiagem e já rodou o Brasil como maquiadora da Avon, entre outras marcas.