Na última terça-feira (07), durante o programa Luciana Any Night, veiculado na Rede TV!, o presidente Jair Bolsonaro afirmou: “no Brasil, é uma coisa rara o racismo. O tempo todo tentam jogar o negro contra o branco, homo contra hétero ou pai contra filho. Desculpe o linguajar, mas isso já encheu o saco”.
Não parou por aí. Ao citar experiências vivenciadas no Exército, lembrou o dia em que resgatou um colega que se afogava: “se eu fosse racista: o negão caiu dentro da água e eu ia fazer o quê? Já cruzar os braços. Entrei lá. Na segunda vez que mergulhei, consegui trazer o negão do fundo da lagoa”.
Senhor Presidente, o racismo no Brasil não somente é histórico como também é velado. Aqui, segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), somos acometidos pelo mito da democracia racial, na qual mais uma vez nos querem fazer acreditar.
Mas a verdade é que quem veste preto na pele sabe reconhecer o racismo e quem não sabe tem aprendido. Foram anos de escravatura que resultaram em populações que compartilham da opinião do presidente eleito.
São muitas estratégias. Antes, um racismo velado. Agora, sobre a legitimação do presidente, um racismo cada vez mais exposto e perigoso. Por outro lado, a falsa simetria de inserir um negro no governo ou dizer que ajudou um “negão” para justificar posturas como a que o político teve durante conversa com Preta Gil, que perguntou a reação de Bolsonaro caso seu filho se casasse com uma mulher negra.
A resposta, já esperada, não condiz com a afirmação de que o racismo é raro no Brasil: “Não corro esse risco e meus filhos foram muito bem educados e não viveram em ambientes como lamentavelmente é o teu”, disse o na época deputado federal à cantora.
Mais uma vez, é necessário lembrar: negros são a maioria dos assassinados, dos encarcerados, dos desempregados; minoria dos formados, dos acadêmicos, dos empregados. E não tem a ver com ser a maior parte do país: a conta não fecha quando a maior parte do Brasil é a menor parte do Brasil a ter ensino superior.
Em tempo: o que já encheu o saco, Senhor Presidente, é o racismo. Inclusive o seu. Se no Brasil, os crimes de racismo recebessem a atenção que teoricamente deveriam, nem o presidente poderia ser presidente.