“Muita gente me pergunta na rua quando voltarei às novelas. Respondo sempre que não depende de mim. O que falta é oportunidade”, declarou em sua rede social o ator Nando Cunha, em desabafo sobre o quanto é difícil trabalhar na televisão. Aos 50 anos, o artista que está em cartaz no teatro, pela comédia “Oi, Quer Teclar?”, critica a inclusão de negros em papéis marginalizados, forma que reforça os estereótipos sociais e reafirma um papel inferior à população majoritária deste país.
O ator disse ainda que “Assim que nós, negros, deixarmos de ser vistos como núcleos (núcleo de favela/núcleo dos suburbanos) e passarmos a ser vistos como atores normais, assim como foi no filme Moonlight [2017], com certeza teremos muito mais oportunidades”. E ele tem razão: sua publicação rendeu likes e comentários como o de um internauta, comparando a realidade brasileira à norte-americana: Verdade, a gente vê séries nos Estados Unidos e os negros tratados como iguais na ficção, em papéis como presidente, empresários etc. Já no Brasil negro, para entrar em novela, é na favela, motorista, escravo, é um absurdo isso”.
Sem papéis na Globo desde 2015, Nando Cunha trouxe novamente à tona um debate antigo sobre representatividade. Seu último personagem foi em “Tomara que Caia”, em 2015. Antes disso, interpretou em “Geração Brasil”, em 2014, mas recorrentemente assumia papéis cômicos, como o de “Salve Jorge” (2012). Nessa novela, Nando dava vida à Pescoço, um malandro nato. Daí a preocupação do ator sobre os papéis que a parcela negra ocupa: algumas personas podem fortalecer estereótipos a que já estamos cansados de ser submetidos, como o do homem cara de pau, da mulher barraqueira, de ambos sensuais.
Infelizmente, além de reivindicar a representatividade, é necessário avaliar com cuidado se a presença da comunidade negra nos espaços antes não alcançados não acontece da mesma maneira que antes, quando éramos incluídos apenas para sermos motivo de chacota. É necessário incluir as parcelas marginalizadas nos espaços de poder, seja na televisão, seja na vida real. É hora de escrever nosso próprio roteiro! Parabéns à Nando Cunha pela coragem de explanar uma lacuna social tão grande.