Cada dia mais, as redes sociais têm sido as plataformas disponíveis para que internautas reproduzam suas opiniões. No entanto, no meio do discurso opinativo, da mesma forma progressiva, os discursos de ódio têm ganhado mais espaço – e seguidores. Nos últimos dias, uma mensagem de cunho racista foi publicada por um calouro do curso de agronomia da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), que graças ao preconceito racial exposto no post, será alvo de uma ação movida por organizações, incluindo o Coletivo Negro da UFMT, junto ao Ministério Público Estadual.
No comentário, aparentemente exposto no facebook, o universitário escreveu: “Gosto muito de negros, tenho amigos negros e tal. Só fico triste porque pararam de vender”, fazendo analogia ao período escravocrata que comercializava a população negra em diáspora. Em entrevista ao G1, o estudante declarou ter postado a brincadeira, recebida com “likes”, “amei” e “haha” por seus amigos, no dia 12 de abril, mas reconhecendo o erro diante da repercussão, apagou a publicação e postou um pedido de desculpas destinado a quem foi ofendido.
Diante do acontecido, diversos grupos se manifestaram contra o posicionamento do estudante. Em carta de repúdio à ação, a União Nacional dos Estudantes em Mato Grosso (UNE-MT), declarou repudiar veemente as atitudes racistas do estudante e de todos que tratam com naturalidade o racismo: “exigimos respeito com as pessoas negras que constroem e construíram este país”. Ao G1, ainda, Antonieta Luiza Costa, representante do Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial (CEPIR-MT), afirmou: “Isso quebra a tese que racismo não existe e mostra que é algo ainda vigente na nossa sociedade. O que incomoda também é a risada das pessoas, que tentam maquiar o processo de discriminação”.
Infelizmente, principalmente nas redes sociais, o preconceito adquire um tom de brincadeira capaz de legitimar sua reprodução. O posicionamento do aluno revela que mais de 300 anos de escravidão e ainda a atual condição da população negra no Brasil e no mundo não foram capazes de sensibilizar uma sociedade institucionalmente racista. Esse tipo de atitude deve ser denunciado, judicializado e punido: racismo é crime. Não importa se o agressor usou tom de ofensa ou de brincadeira, preconceito racial permanece preconceito racial.