É por isso que a discussão sobre ser rap ou rep a forma correta de se referir, no Brasil, a uma das mais fortes expressões artísticas não altera em nada o grito das periferias. “Rhythm and poetry” ou “ritmo e poesia”, o estilo musical permanece atravessando fronteiras e fotografando a realidade dos espaços marginalizados em características, quase sempre, muito parecidas.
A periferia é periferia em todo lugar. No Brasil ou nos Estados Unidos da América. A prova disso é o homem cuja identidade no Youtube se revela BiXop. O norte-americano bombou nas redes no fim da última semana, quando um dos seus vídeos, em que retrata a realidade no negro nos EUA, enquanto canta a música “O trem”, da RZO (Rapazeada da Zona Oeste), um grupo brasileiro de rap fundado na década de 80. Lançado na rede há um ano, o vídeo denuncia a realidade análoga dos espaços socialmente vulneráveis, evidenciando que no país mais influente do mundo, a população negra permanece sofrendo as mazelas da desigualdade racial.
BiXop não apenas reproduz músicas brasileiras. Ao que tudo indica o artista até aprendeu português enquanto ouvia grupos como Racionais Mc’s, Facção Central e RZO. Hoje, o canal dele apresenta também trabalhos autorais como #SangoFreestyle, em que mescla português ao inglês: cada metade da música composta é cantada num idioma. Nesse som, o norte-americano negro cita RZO, Racionais, Sabotage, Facção Central, Rappin Hood, MV Bill e Realidade Cruel enquanto explica que a vivência aproxima pessoas e países.
De tanto amor recíproco, do rap pelo rep, BiXop passou um tempo no Brasil, quando chegou a se apresentar na Galeria Olido durante todas as quartas-feiras do mês de novembro, com Herdeiras do Aqualtune, um coletivo de produção cultural da Cidade de São Paulo. Hoje o artista vive em São Paulo e, em suas redes sociais, anuncia um novo trabalho pelo visto ao lado de brasileiros, o clipe “A periferia pede socorro”. Que a expressão da quebrada permaneça ultrapassando as fronteiras e fortalecendo a periferia. Gratidão, BiXop!