Fazer uma matéria sobre um evento é algo relativamente simples. Então, lá fui eu nesse dia 21 (sábado) assistir a formatura da primeira turma do Plano de Menina, um projeto social que minha irmã Luiza Peres já apresentou a vocês numa matéria aqui do TNM (Clique aqui). Chegando na Fundação Cásper Líbero, na Av. Paulista, eu mal podia imaginar a vivência que me aguardava. Fui recebida pela poesia de Luz Ribeiro, que sente suas letras tão fecundamente que transborda em nós sua pulsação. Aliás, o Slam das Minas estava em peso lá.
Viviane Duarte, que é fundadora do projeto Plano de Menina, explicou sua motivação: usar o lugar social conquistado para fazer o caminho de volta – da ponte pra “cá” ou “lá”, dependendo do referencial – e empoderar meninas para que consigam fazer planos e protagonizar sua história. Ela anunciou a criação da plataforma digital (disponível a partir de fevereiro) que visa ampliar o alcance do projeto, conectando mentoras – que ministrarão vídeo-aulas – com meninas, em todo o país, que desejam ter acesso ao conteúdo dos cursos.
Assista o vídeo sobre a plataforma do Plano de Menina
Vivi agradeceu o incentivo da embaixadora do projeto, Alexandra Loras, que fez uma fala sobre a importância de termos pessoas que nos apoiem durante nossa trajetória. Alexandra conectou Vivi a mulheres que fizeram a diferença nesse projeto, como a advogada e empresária Eliane Dias, a advogada Mayara Silva e a juíza Mylene Ramos.
Durante a fala de Rafaela, de 15 anos, todos começamos a chorar com ela. E era só o começo. Não relato aqui as histórias das meninas porque só interessa a elas e a quem elas quiserem contar. A curiosidade dos brancos acadêmicos sobre como vivemos na periferia não acompanha essa preta que vos fala. Mas aquele espaço estava tão preenchido de emoção quanto as superações que elas vivenciaram para estar ali. As cantoras Indy Naise e Nina Oliveira acalentaram a emoção que rolava com suas vozes e composições.
Em cada uma das falas das meninas sobre como eram antes e como são agora, conseguia me enxergar um pouco. A timidez decorrente do racismo na escola, a baixa autoestima, os momentos em que desacreditavam nossos planos, o campo de possibilidades restrito e a formação para trabalhar pelas conquistas do marido ao invés de lutar pelas suas próprias.
Tudo isso me fez pensar sobre o tamanho da responsabilidade que temos depois que realizamos nosso plano. Quando eu tinha 15 anos e morava numa rua sem saneamento ou asfalto no Tude Bastos (Praia Grande) tinha dificuldades em me imaginar fazendo faculdade. Se me dissessem que eu faria o bacharelado, mestrado e doutorado em universidades públicas, eu daria risada. Mesmo assim, algumas pessoas falaram e me ajudaram a ver que era possível sim. Essa formatura das meninas me fez ver o quão importante é fortalecer essa corrente e com 30 anos, poder olhar uma menina de 15 e incentivá-la a acreditar. E não preciso voltar ao Tude, pode ser no Grajaú, no Capão ou pela internet, porque do mesmo jeito que “todo camburão tem um pouco de navio negreiro”, toda periferia tem planos que só precisam ser regados para germinar.