Não deveria ser notícia, mas em se tratando do país mais racista do mundo, é um feito histórico. Temos uma Miss Brasil Negra.
O evento que aconteceu no Citibank Hall em São Paulo e contou com personalidades da moda e especialistas em beleza no juri, apresentou 27 candidatas de todo Brasil, sendo 6 lindas mulheres negras no total, o maior número na história do concurso.
Raíssa Oliveira, a vitoriosa.
Acostumada com as passarelas e a estampar campanhas publicitárias, Raíssa Santana nasceu na Bahia mas mora em Umuarama, no Paraná. Por essa cidade foi eleita Miss Paraná em 2016, o que já era uma grande vitória para uma mulher negra, ainda mais no sul do Brasil. Mas, na noite de ontem, 01 de Outubro, mais conhecido como ontem, Raíssa Santana alcançou a vitória de sua vida, conquistou o Miss Brasil 2016, transmitido ao vivo pela Band.
Raíssa Oliveira Santana que representava o Paraná, tem 21 anos, 1,77 de altura, é modelo profissional e estudante de marketing. Com a vitória Raíssa não ganha apenas o título de Miss Brasil 2016, ela também recebe como principais prêmios um contrato de R$ 100.000,00 (cem mil reais), bolsa de estudos de Graduação ou Pós-Graduação Universitária, uma viagem para a Colômbia, uma viagem para a Itália, um carro Kia Picanto, jóias, produtos de beleza e o melhor, o passaporte carimbado para representar o Brasil no Miss Universo em 30 de janeiro de 2017, nas Filipinas.
Como se não bastasse ser ovacionada a cada vez que aparecia ou tinha seu nome anunciado, Raíssa foi muito corajosa ao colocar a representatividade e o fato de não termos uma Miss Brasil negra há tanto tempo, como um dos motivos pelos quais deveria ser escolhida. Isso poderia ser um tiro no pé já, que ela estava justamente tentando convencer um juri majoritariamente branco, de que era a melhor opção.
Assista o vídeo do palco logo após a vitória de Raíssa
“Eu estou sonhando. Parece que eu estou num sonho, emocionada. Estou muito alegre de ter cumprido com tudo que eu queria. Eu fiz tudo que eu quis, eu fui eu mesma”, disse Raíssa após a coroação.
A noite foi negra, pois além de Raíssa levando o título maior, tivemos também um terceiro lugar com a também belíssima Miss Maranhão Deise D`anne e a festa foi aberta pelo cantor Dom Paulinho Lima. Já perto do final do evento a cantora Paula Lima, que também era jurada, subiu ao palco e deu o seu show habitual.
Raíssa, que foi muito assediada após o final do evento, reforça o time de mulheres negras que estarão no Miss Universo, aumentando considerávelmente as chances de termos uma Miss Universo, negra. Recentemente a belíssima tenente do exército americano, Deshauna Barber saiu vitoriosa e representará os EUA.
O título de Raíssa tem ainda mais motivos para ser emblemático. Ela é uma mulher nascida na Bahia mas que vive há muitos anos no Paraná, um estado empolado e metido a Europeu, um dos mais racistas do Brasil. Neste exato momento o Sul do Brasil vive, mais uma vez, a tentativa de se separar do resto do País. Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná coletaram votos em 1.279 pontos de votação para o movimento separatista que se intitula “O Sul é o meu País”.
Apesar de o Brasil ser o país com a maior população negra fora da África, há exatos 30 anos não tinha uma Miss Brasil negra. A primeira e última foi Deise Nunes em 1986, curiosamente representando outro estado improvável, o Rio Grande do Sul. Hoje com 45 anos, Deise torcia para que, finalmente, pudéssemos ter uma beleza negra como vitoriosa no concurso dessa noite.
Empresas do Sul não usam mulheres negras, jamais, em seus comerciais de TV e demais propagandas. Refugiados Africanos e Haitianos são constantemente agredidos verbal e fisicamente, chegando ao extremos de serem agredidos até a morte, como aconteceu no ano passado.
Essa vitória vem em um momento que que muito se fala sobre racismo, empoderamento e representatividade. Nós negros, sempre soubemos da importância disso tudo, porém, com as redes sociais esses movimentos ganharam força e popularidade, apesar de ainda ser muito criticado pelos que acham que somos todos iguais e deveríamos agir como tal, ignorando totalmente que deixamos de estar em pé de igualdade quando fomos trazidos da áfrica, açoitados por 400 anos, tivemos nossas raízes cortadas para sempre, nossa beleza ignorada, inteligência questionada e nossa cultura jogada na lama.
Hoje, todas as mulheres negras do Brasil acordaram se sentindo representadas. Com toda certeza, a menina negra da periferia, lá no fundo de seu barraco de tábua, vai passar na frente de um espelho e vai se olhar de uma maneira diferente. Representatividade importa, sim. Muitas meninas negras a partir de agora vão começar a pensar na possibilidade de também serem misses, por que não? Muitas meninas e meninos negros, recebem com essa vitoria a informação de que, a cor da sua pele é linda e não deve ser um impeditivo para nada. Eles poderão ser o que quiserem na vida. O racismo só irá acabar quando todos perceberem que é impossível impedir que ocupemos todos os espaços, que também são nossos por direito. O racismo só vai acabar quando vermos mais mulheres e homens em capas de revista como símbolos de beleza. Quando formos a um hospital e sermos atendidos por médicos negros. Quando vermos mais juízes e juízas, engenheiras, advogados, advogadas, atores e atrizes, negros.
Parabéns Raíssa Oliveira por sua vitória. Parabéns Deise D’anne pelo terceiro lugar.
Que venham mais, queremos muito mais!
Para quem ainda tem dúvidas que Raíssa Santana mereceu, confira a galeria de fotos da bela.