[ARTIGO]
Oi, eu sou uma mulher preta de 29 anos, jornalista, mãe e remanescente de quilombolas do quilombo da Caçandoca. Bem, essa breve descrição deveria ser o suficiente para você entender porque o hype da barbie não me pegou, mas vamos lá.
Vamos destrinchar essa bio, tenho 29 anos, ou seja, a idade média de todas as pessoas que estão enlouquecidas com o novo filme da barbie, porém, também sou preta, mãe de um adolescente e quilombola. Mais uma vez: ou seja, não brinquei de barbie.
Em 29 anos de vida, nunca ganhei uma barbie.
Sim, já assisti aos clássicos filmes da boneca e não eu não sou contra a loirinha e nem quem foi pego pelo marketing da memória afetiva, eu também fui pega.
Com esses fatos, com todo o marketing e com os seus desdobramentos – vídeos, lanches, looks e tudo rosa – é óbvio que fui impactada e levada para um lugar da minha infância, em que se tinha sim brinquedos mas nenhum era caro, nenhum era barbie. E sim, eu já pedi uma barbie de presente de aniversário.
Barbie sempre foi um artigo de luxo, nem todas as famílias brasileiras tinham ou têm condições de comprar uma barbie, uma polly ou outra boneca de marca. As paralelas, desajeitadas, eram mais baratas e faziam a alegria da mesma forma.
Por fim, essa lembrança me fez refletir sobre as várias adversidades que os meus pais passaram para me criar. Me fez refletir que com certeza não sou a única garota preta que nunca teve uma barbie e me fez querer deixar registrado que está tudo bem você não ser apaixonada por uma barbie. Nossos pais fizeram o melhor que podiam.