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Espetáculo “Cárcere ou Porque as Mulheres Viram Búfalos” inicia temporada no Sesc Belenzinho

Após temporada de sucesso na Casa de Teatro Mariajosé de Carvalho, participação no Mirada – Festival Ibero-Americano de Artes Cênicas e duas indicações ao Prêmio APCA (Direção e Dramaturgia), a Companhia de Teatro Heliópolis cumpre temporada do espetáculo CÁRCERE ou Porque as Mulheres Viram Búfalos no Sesc Belenzinho, em São Paulo. As apresentações acontecem do dia 10 ao 27 de novembro, às quintas, sextas e aos sábados, às 20h, e aos domingos, às 17h.

Com encenação de Miguel Rocha e texto de Dione Carlos, a montagem aborda a forte presença feminina no contexto do cárcere, tendo Antônio Valdevino, Anderson Sales, Dalma Régia, Danyel Freitas, Davi Guimarães, Isabelle Rocha, Jefferson Matias, Jucimara Canteiro, Priscila Modesto e Walmir Bess como intérpretes. 

O enredo parte da história de duas irmãs gêmeas – Maria dos Prazeres e Maria das Dores – com vidas marcadas pelo encarceramento dos homens da família para apresentar as estratégias de sobrevivência, sobretudo, das mulheres em suas comunidades. Quanto ao título, a dramaturga explica que “faz referência às mulheres que transmutam as energias de violência e morte e reinventam realidades”. 

A encenação de Miguel Rocha tem as mulheres – mães, esposas, companheiras, irmãs – no centro da abordagem. “São elas que carregam o fardo, que são acometidas pelos desdobramentos do encarceramento de seus parceiros ou familiares, tendo a vida emocional, a segurança física e a situação financeira abalada. A mulher se torna a força e o sustentáculo da família, e também daquele que está em situação de cárcere”, argumenta o encenador. 

A história das duas irmãs é um disparador no enredo de CÁRCERE ou Porque as Mulheres Viram Búfalos para revelar o quão difícil é se desvincular de uma estrutura tão complexa quanto o encarceramento. Enquanto a mãe enfrenta o sistema jurídico na tentativa de libertar o filho preso injustamente, lutando pela subsistência da família e do filho, sua irmã é refém do ex-companheiro, também encarcerado, a quem deve garantir suporte no presídio, além de não ter direito a uma nova vida conjugal pelo risco de perder a própria vida. Presas a um histórico circular, pois também tiveram o pai preso, elas lutam para quebrar o ciclo, em um percurso espinhoso. Miguel Rocha comenta que “a montagem não ignora que a tirania do cárcere reverbere na periferia, onde poderes paralelos criam regras e ditam normas, dispondo da vida das pessoas”.

A ancestralidade está presente na dramaturgia e permeia a encenação de forma arquetípica. O coro aparece tanto como uma representação da coletividade quanto um exercício da voz ancestral, cujos saberes resistiram à barbárie e atravessaram séculos nos corpos, nas memórias e nas crenças do(a)s africano(a)s que, escravizado(a)s, fizeram a travessia do Atlântico. Vale ressaltar que a maioria dos encarcerados é de ascendência negra, além de pobres e periféricos. “Nosso propósito é apresentar uma obra que trace o percurso dessas mulheres, pretas e pobres, cujo destino é atrelado ao cárcere. Não é defender a criminalidade, mas refletir sobre a situação limite em que o condenado se insere, além de mostrar que o modelo prisional vigente é cruel, discriminatório e não presta à ressocialização”, argumenta o encenador.

Como é característico nas encenações da Companhia, o espetáculo explora as ações físicas para construir um discurso poético e expressionista das relações de poder e da situação de cárcere. A música ao vivo (violino, viola, cello e percussão) potencializa esse discurso nas cenas coreografadas que denunciam e evidenciam o cotidiano em questão. O futebol, a comida, as humilhações, a disciplina imposta são passagens que elucidam a ambiguidade da proposta do sistema para a reabilitação daquele que, supostamente, infringiu as regras da sociedade. O encenador explica que “a música e a coreografia têm a força de expor a concretude, a precariedade e a desestrutura do espaço onde o enredo se desenvolve”. O espaço cênico é neutro (predominando o cinza), e a iluminação confere intensidade à cena e à dramaturgia. Apenas alguns elementos cenográficos são contextualizados de forma poética, a exemplo das gaiolas que representam a prisão emocional e psicológica da mulher que sofre indiretamente as consequências do cárcere. 

Esse espetáculo, cuja estreia foi em 12/3/2022, resultou do projeto CÁRCERE – Aprisionamento em Massa e Seus Desdobramentos, elaborado para comemorar os 20 anos que a Companhia de Teatro Heliópolis completou em 2020 – contemplado pelo Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo. Durante o processo criativo, o grupo contou com participação de pensadore(a)s e pesquisadore(a)s em debates (Salloma Salomão, Juliana Borges, Roberto da Silva e Preta Ferreira), provocações (Maria Fernanda Vomero e Bernadeth Alves) e performatividade (Carminda Mendes André). Também de Bruno Paes Manso e Salloma Salomão foram comentadores, além da colaboração de Bel Borges e Luciano Mendes de Jesus (preparação vocal), Renato Navarro (música), Érika Moura (pesquisa corporal), Janete Santiago (dança afro), Eliseu Weide (cenografia), Samara Costa (figurino), Toninho Rodrigues (luz) e tantos outros.

SERVIÇO

Espetáculo: CÁRCERE ou Porque as Mulheres Viram Búfalos

Com: Companhia de Teatro Heliópolis 

Temporada: 10 a 27 de novembro de 2022

Horários: quinta, sexta e sábado, às 20h, e domingo, às 17h

Local: Sala II (120 lugares) – com acessibilidade.

Ingressos: R$ 30,00 (inteira), R$ 15,00 (meia-entrada) e R$ 9,00 (credencial Sesc)

Duração: 120 min. Classificação: 12 anos. Gênero: Experimental.

Sesc Belenzinho

Rua Padre Adelino, 1000. Belenzinho – São Paulo (SP)

Tel: (11) 2076-9700 | sescsp.org.br/Belenzinho | Nas redes: @sescbelenzinho

Estacionamento: Credenciados plenos: R$ 5,50 +R$ 2,00 hora adicional. Não credenciados: R$ 12,00 + R$ 3,00 hora adicional. 

Transporte público – Metro Belém (550m) | Estação Tatuapé (1400m).

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Thais Prado
Thais Pradohttp://www.todosnegrosdomundo.com.br
Remanescente de quilombolas, do quilombo da Caçandoca em Ubatuba, formada em Jornalismo, pós graduada em Comunicação Digital e Redes Sociais e formada em Diversidade e Inclusão Social em Direitos Humanos pela USP.
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