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terça-feira, 03 outubro 2023
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Coletivo Okan encerra exibição da peça teatral no Aparelha Luzia

 O Coletivo Okan anuncia o encerramento da peça “Todas as centenas de dias em que estamos aqui”. O experimento audiovisual retrata questões da negritude e a busca pela liberdade do povo negro. Com texto de Jhonny Salaberg e direção de Mawusi Tulani e Monilson Moni, as narrativas se encontram através do tempo, seja no recôncavo Baiano ou na periferia da cidade de São Paulo, em 1500 ou em 2022. Após ganhar uma primeira exibição presencial acompanhada por roda de conversa na Casa Amarela Quilombo Afro Guarany – um dos poucos quilombos urbanos no Centro de São Paulo –, a peça será encerrada presencialmente nesta sexta-feira, 01, no Aparelha Luzia, outro quilombo urbano da cidade que também é centro cultural.

“A exibição na Casa Amarela foi de suma importância para o coletivo, pois nos possibilitou um contato mais próximo com o público que assistiu a peça audiovisual. A platéia trouxe um olhar que nos ajudou a entender lugares de nossa pesquisa que nem mesmo nós havíamos acessado”, explica Moni.

Na peça, a revolta dos Malês é não só lembrada, como atualizada no hoje periférico, dilatando o passado a fim de evocar uma polifonia de vozes, materializadas pelas diversas experiências de lutas da população negra do Brasil. O futuro está apenas sugerido como saudosismo do que não aconteceu, e que paira no ar como desejo de liberdade. Esse cruzamento de tempo-espaço é uma provocação à memória entranhada nos corpos da população que vive hoje nos territórios da periferia de São Paulo, um chamado para reviver esse movimento espiralar da resistência negra através dos tempos.

“Exibir “Todas as centenas de dias em que estamos aqui” no Aparelha Luzia, um quilombo urbano, presentifica todo nosso material, principalmente por falarmos do passado no presente em um espaço que também representa o futuro”, reflete o diretor.

Ganha corpo nesse trabalho a influência da manifestação Nego Fugido, do Recôncavo da Bahia, em que a população quilombola de pescadores e marisqueiras ressignifica o processo de luta e conquista da liberdade negra num jogo provocativo de aparições que se dá nas ruas de Acupe em dias de celebração. Para essa comunidade, a conquista da liberdade não se deu ainda – o “favor” da princesa Isabel foi uma mera encenação “para inglês ver”, e a liberdade de fato só será conquistada pela luta, uma luta que enfrente os poderes constituídos que marginalizam a população negra do Brasil. Pela sua teatralidade singular, ao mesmo tempo lúdica, musical, ritual e ancestral.

“O Nego Fugido é uma chave poderosa para abrir as portas da memória traumática, desatar nós de corpos amarrados pelo cotidiano urbano e fortalecer as lutas antirracistas da população periférica de São Paulo contra os processos de colonização e escravidão contemporâneos”, explica Moni. 

Nascido em 2017, o Coletivo Okan de Teatro foi idealizado por jovens negros da periferia de São Paulo que frequentavam a Escola Livre de Teatro de Santo André, e que decidiram falar sobre ancestralidade e a cultura provinda do povo preto. “Todas as centenas de dias em que estamos aqui – De Leste a Oeste – Circulação” é um projeto do espetáculo “Todas as centenas de dias em que estamos aqui”, contemplado pelo edital da Prefeitura de São Paulo, VAI II 2020.

SERVIÇO

“Todas as centenas de dias em que estamos aqui”

Sexta-feira, 01/07

Aparelha Luzia (Rua Apa, 78 – Campos Elíseos, São Paulo

Gratuito

Sobre o Coletivo Okan 

O Coletivo Okan de Teatro nasce à medida em que seus integrantes, jovens negros da periferia de São Paulo, formados, formadas e em formação na Escola Livre de Teatro de Santo André, decidem falar sobre a cultura provinda do povo negro. Através de pesquisas sobre a cultura afro, o Coletivo inicia seus trabalhos em 2017 e dá vida ao seu primeiro projeto, a peça “Èlèyè – Mulher pássaro”, trazendo à tona nossas histórias, origens e poesias. O projeto foi subsidiado pelo programa VAI 2017, no qual o Coletivo criou, desenvolveu, estruturou e apresentou a peça no Centro de Formação Cultural da Cidade Tiradentes e no Instituto Pombas Urbanas. Em 2018, iniciam o processo de pesquisa “Capital Vigília” onde investigam o negro no capitalismo e como esses corpos se inserem na sociedade. Desse estudo foi realizada a abertura de processo no Instituto Criar de TV, Cinema e Novas Mídias. O mais recente trabalho desenvolvido pelo coletivo é a peça ‘TODAS AS CENTENAS DE DIAS EM QUE ESTAMOS AQUI’, projeto subsidiado pelo programa VAI II em 2019 e 2020, no qual discutem os processos de liberdade do negro desde os tempos da escravização até os dias atuais, e tem como ponto de partida a aparição do Nego Fugido.

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Cristhiane Faria
Cristhiane Faria
Cristhiane Faria aka Nega Cléo é poeta, slammer, modelo, dançarina, arte-educadora e Fundadora da GRIOT Assessoria, agência de Relações Públicas com a missão de perpetuar as histórias de artistas, eventos, projetos culturais e criadores de conteúdo pela mídia e na internet. | Contato: [email protected]
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