A atriz e cantora Larissa Nunes, depois de participações de peso em serviços de streaming, faz sua estreia na TV Globo na novela “Além da Ilusão” com uma personagem dos anos 40 que deseja ser professora.
Quando penso na possibilidade de uma personagem sendo interpretada por uma mulher negra de 25 anos que foge do lugar de trauma e violência, me lembro de reflexões sobre a infância: quem nunca viu críticas feitas a familiares que “permitem” que um menino brinque de boneca? Na mesma medida em que meninas são induzidas à maternidade desde cedo com esse mesmo brinquedo, meninos são afastados dessa possibilidade e depois queremos discutir como é que estes meninos em determinados contextos não foram preparados para ser pais.
Se nem na brincadeira há lugar para a paternidade, onde é que haveria? Da mesma forma, se nem na produção audiofonográfica havia lugar para que mulheres negras pudessem ter suas histórias contadas para além da violência, onde é que haveria esse espaço?
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Além da Ilusão
Enquanto aguarda a estreia de seu terceiro trabalho no streaming, “O Rei da TV”, no StarPlus, Larissa Nunes conta sobre sua preparação para viver a personagem.
“Eu diria que é um privilégio fazer personagens marcadas pelos próprios sonhos, mas talvez seja mais do que isso. Faço parte de uma mudança que tem tomado maiores proporções no audiovisual. A TV e o cinema precisam desmistificar a vida de pessoas negras, e a mídia precisa dar espaço para isso. Pode ser que para algumas atrizes ser a ‘mocinha’ não faça tanto sentido – mas, para mim, é uma quebra de expectativa. Mostra que histórias gentis também pertencem à nós, mulheres negras, e não apenas histórias de traumas”, sublinha Larissa.
Outra questão fundamental são as pessoas por trás das câmeras, que fazem com que as produções tenham protagonismos diversos e histórias para além de estereótipos. Larissa teve a “sorte” de contar com um cenário que infelizmente ainda é raro em especial nas emissoras brasileiras: o diretor de “Além da Ilusão” é Jeferson De, um homem negro, que assinou produções como “M8 – Quando a Morte Socorre a Vida” e “Doutor Gama”.
“Conheço o Jeferson do cinema e admiro demais o olhar e o trabalho dele. É uma conquista estrear na TV aberta fazendo uma personagem negra com substância, sem estereótipos e ainda poder discutir, ser ouvida e orientada por um diretor negro. É uma identificação muito importante, que me deixa bem à vontade na obra toda e com toda a direção”, pontua Larissa.
Larissa Nunes
Embora esteja realizando sua primeira novela, Larissa já tinha intimidade com o audiovisual – e com as obras de época. A atriz integrou as duas temporadas da série “Coisa Mais Linda” (Netflix) e aguarda a estreia de “O Rei da TV”, onde interpreta Cleusa. “A série se passa nos anos 1970 e é um projeto muito especial, com uma personagem que me desafiou, também. Aliás, na novela reencontrei Roberta Gualda, que também está na série. Com esses trabalhos de época, parece até que viajo no tempo! (risos) ”, diverte-se a atriz, que estreou no audiovisual na série “3%”.
Compositora desde os 12 anos, Larissa já lançou dois EP’s (“Larinu” e “Quando Ismália Enlouqueceu”) e pretende movimentar sua carreira de cantora ainda este ano. “Desta vez quero experimentar, conhecer novas parcerias. Tudo novo, de novo! Estou programando lançar algo que será bem diferente de tudo que já produzi. Quero chegar em mais pessoas. É um momento de mostrar mais do meu amor pela música brasileira, pelo samba, pelos ritmos afro e pela poesia. Já estou compondo coisas novas que em breve vocês conhecerão”, promete a multiartista, que também integrou o espetáculo-show “Ícaro and The Black Stars”.
Larissa, que é formada pela Escola de Arte Dramática da Universidade Federal de São Paulo, está morando no Rio desde o ano passado e, apesar de só ter conhecido a praia aos 12 anos, diz que por lá a galera diz que ela já era carioca sem saber.