Quilombaque é um movimento político e étnico cultural regido pelos tambores. Com mais de 15 anos de muita luta, o coletivo segue resistindo em Perus, zona noroeste de São Paulo.
Por isso, para contar mais sobre o grupo, o oitavo episódio da série Cultura de Periferia em Tempos de Pandemia traz Dedê Ferreira, integrante da Quilombaque. O projeto da Ponte Jornalismo é realizado em parceria com o Todos os Negros do Mundo. Além disso, está disponível no YouTube e exibida aos sábados na Rede TVT.
A iniciativa surgiu por meio dos jovens do bairro Perus que queriam tocar tambor. Completando 15 anos em 2020, o grupo evoluiu e conquistou seu espaço. “A Quilombaque surgiu através dos tambores e são eles que nos guiam,” afirma Dedê.
O coletivo, que teve início em uma garagem, conseguiu unir música, arte e cultura na periferia. De acordo com Dedê, no começo, a maior dificuldade era driblar o preconceito. “A gente tocava ritmos afro-brasileiros, então tinha essa ideia que éramos um bando de macumbeiros.” A intolerância religiosa está muito atrelada ao racismo, mas o grupo foi capaz de atrair a atenção dos moradores de forma positiva.
Além do ritmo do tambor, outras intervenções artísticas ganharam espaço, como apresentações com o circo. Dessa forma, o grupo viu como ocupar esse espaço. “Hoje nós somos referência. Porque vamos trabalhando e isso vai tomando uma repercussão.”
Firmeza Permanente
Fazer arte no Brasil e viver dela é por si só uma forma de resistir. Para o coletivo Quilombaque, não podia ser diferente, ainda mais por estar localizado na periferia.
O próprio bairro Perus carrega consigo uma história de luta. Uma empresa de cimento com o mesmo nome deu origem ao local e de 1962 a 1969, os trabalhadores fizerem a maior greve do país. Ficaram conhecidos como os “Queixadas” e são um marco histórico até os dias de hoje.
“Eles tinham um lema, que era ‘Firmeza Permanente’ e é o que a gente carrega. Levamos essa resistência, passamos esses 15 anos em processo de transformação. A formação da Quilombaque foi na prática.”
A Casinha: Lugar de resistência e afeto
Quilombaque segue tocando
Em 2020 seria a comemoração dos 15 anos do coletivo, mas as coisas tomaram um rumo diferente. Com a pandemia e o isolamento, foi preciso parar e repensar uma maneira para seguir. Dedê garante que, mesmo nos momentos de insegurança, a Quilombaque continuou resistindo.
“Quando você trabalha com a comunidade, não dá para ficar parado. Por um tempo, até paramos artisticamente, mas começamos a fazer doações de alimentos, em parceria com a Uneafro. Então, com a pandemia, a gente trocou a arte pela ação social, que, na verdade, é tudo junto e misturado.”
A campanha segue até hoje para conseguir devolver dignidade e direitos básicos. Além disso, alguns espetáculos e shows são gravados no espaço da Quilombaque, mas as atividades abertas ao público continuam suspensas.
O coletivo quase perdeu o espaço, pois o dono do terreno queria que o grupo comprasse o local. Por isso, foi criada uma Vakinha Virtual que recebeu ajuda de todes. A arrecadação permitiu que a Quilombaque comprasse a sede e garantiu a sua continuidade.
Acompanhe as produções culturais do coletivo pelas redes sociais: Instagram (@quilombaque) e Facebook.