Simone Biles ficou famosa, pelo menos aqui no Brasil, depois de sua participação nas Olimpíadas do Rio de 2016. Na época, foi comparada a próxima Usain Bolts ou Michael Phelps, mas a sua resposta para isso foi “Sou a primeira Simone Biles”.
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E é mesmo. Durante uma entrevista em um evento para promover a marca japonesa SK-II de cuidados com a pele, a atleta respondeu algumas perguntas, entre elas a respeito das suas referências negras e sobre sua aparência. Biles disse: “Não importa o quão boa você é em seu esporte, na vida, no trabalho, a primeira coisa sobre a qual as pessoas falam é sua aparência.” Essa questão é pessoal para Biles que, ainda pequena, foi apelidada com um nome que era uma mistura de “soldado” e “inchada”.
Por falar nisso, outra característica que a torna única é seu contexto na infância: a atleta tinha uma mãe com problemas com drogas, o pai já não estava presente e ela e os irmãos foram morar num lar adotivo. A casa tinha um trampolim, mas Biles não podia usar. Depois disso, foi morar com o avô materno e sua esposa, que depois acabaram adotando ela e um dos seus irmãos. Na nova casa, Biles finalmente encontrou um trampolim que ela podia usar. Lá também havia um balanço, no qual Biles subia bem alto e depois saltava fazendo acrobacias.
Sobre suas referências, a atleta diz que não via muitas ginastas negras, então, quando via, se sentia muito inspirada a ser tão boa quanto elas. A ginasta afro-americana Gabby Douglas a ajudou muito nesse sentido. Ela diz: “Me lembro de ter visto Gabby Douglas ganhar as Olimpíadas de 2012 e fiquei tipo ‘se ela consegue, eu também consigo’”.
Simone Biles batalhou muito e, depois dos problemas de comportamento que a família teve que aguentar (ela passava muitas horas treinando e ficava de muito mau humor) e de passar com um terapeuta do esporte, sua atitude mudou. E ela começou a ganhar. Nem ela sabe ao certo quantas vitórias teve. Em um dos eventos, ela chuta dizendo que foram 25 medalhas e, na verdade, são 30.
Aos 23 anos, Biles estava a quatro meses de se aposentar. Tinha como meta a participação nas Olimpíadas e um evento pós-Olimpíadas chamado “Gold Over America Tour”. Então a pandemia começou e as Olimpíadas foram adiadas. Em meio a todo o caos gerado para qualquer atleta, que condiciona seu corpo e seus esforços para que esteja preparado para um evento tão grande e significativo como as Olimpíadas, Biles ainda lidava com todos os casos de abuso de Larry Nassar, do qual ela também foi vítima – embora tenha levado algum tempo para perceber e se manifestar publicamente. A respeito do assunto, ela diz: “Eu achava que não tinha sido abusada porque não foi na mesma proporção das outras meninas. [Com] algumas de minhas amigas [as coisas] foram muito, muito piores. Elas eram suas favoritas. Como o que ocorreu comigo não foi da mesma forma, eu achava que não tinha acontecido.” Biles é a única atleta a ter denunciado Nassar e continuado a competir no nível de elite.
Embora, neste momento, ela esteja decidida a encarar a competição, as Olimpíadas adiadas implicavam mais um ano de espera, mais um ano de preparação, treinamentos, incertezas e ter que lidar com o ambiente onde todos os abusos aconteceram. Biles foi morar sozinha, não tinha a quem recorrer por apoio emocional, desenvolveu crises de ansiedade e sede de justiça. Esse é um dos motivos pelo qual o evento pós-Olimpíadas, o “Gold Over America Tour”, está de pé. A USA Gymnastics (USAG), um órgão governamental responsável pela realização de eventos deste porte, do qual Nassar fazia parte, declarou falência. Biles decidiu então realizar o evento por conta própria: “Não querendo ser pretensiosa, mas eu chamo grande parte das multidões por conta própria.”
Outros fatos se desenrolaram depois das denúncias iniciais. Outras atletas denunciaram o médico acusado de abuso e os casos foram julgados como procedimentos médicos legítimos. Vários membros de posições importantes, como o da presidência da USAG, renunciaram seus cargos enquanto muitas outras mulheres denunciaram Nassar, o que dava a entender que muitas outras pessoas já estavam cientes do caso. Biles se posiciona sobre os acontecimentos: “Precisamos descobrir porque isso aconteceu, quando aconteceu, e quem sabia o quê e quando.”