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terça-feira, 03 outubro 2023
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Single na voz de Gerônimo Santana antecede lançamento de álbum com musicas inéditas de Moa do Katendê

No dia 21, poucos dias antes da data de aniversário do Mestre Moa do Katendê –
nascido em 29 de outubro de 1954 – entra nas plataformas digitais Presente de Oxum,
composição inédita de sua autoria. Primeiro single do álbum Moa Vive!, a ser lançado
no dia 11 de novembro, é interpretado pelo cantor Gerônimo Santana.

O projeto, contemplado pelo Rumos Itaú Cultural 2019-2020, é comandado pelo produtor
musical e amigo do homenageado, Átila Santana, em cujo estúdio o mestre fez o
registro sonoro de suas músicas, sete anos antes de sua morte.

“Moa vive no canto de muita gente, mas para dar início ao cortejo do projeto Moa
Vive! e entoar o título-canção, tinha de ser Gerônimo”, afirma o historiador Waldemar
Oliveira Filho, que participou da confecção do projeto junto de Santana. “Poucos
artistas vivenciaram e celebraram a reafricanização da capital baiana como ele.
Gerônimo transa a vida doce-amarga de Salvador com a simbologia dos candomblés. A
gente lembra que foi ele – e Vevé Calazans – quem primeiro reverenciou Oxum como a
mãe de todos dessa cidade”, conta. “Mestre Moa e Gerônimo são a síntese do melhor
que nós somos: África, Recôncavo, Engenho Velho e Caribe. Por eles e por outras,
somos o povo da canção.”

O single
Presente de Oxum é um ijexá – ritmo nigeriano, levado para a Bahia pela etnia iorubá
de escravizados. “Esta foi uma das primeiras que me chamou a atenção dentro desse
repertório de cerca de 30 canções que Moa gravou aqui em 2011”, conta Átila
Santana, que, além da produção musical do disco, toca contrabaixo elétrico na música.

“É uma canção que tem uma melodia maravilhosa, uma letra incrível, tem acentuações
rítmicas dentro da melodia que só Moa poderia compor”, afirma. “Ele realmente tinha
um jeito ímpar de fazer e essa sua sofisticação ao criar ganhou potência no violão de
José Humberto, o Zumbé, que infelizmente também morreu em 2018.”
Na faixa, o idealizador do projeto é acompanhado por Felipe Guedes nos violões; nas
percussões por Gabi Guedes e Mestre Jorjão Bafafé, criador junto de Moa do Afoxé
Badauê; Marcos Santos na bateria; Zanah Santos e Andréa Caldas nas vozes; Sebastian
Notini no sax e Juliano Oliveira nos teclados.

Átila Santana explica que a sonoridade da música brasileira gravada no final da década
de 1970 – a exemplo dos Tincoãs, Moacyr Santos e Georgete Rocha – foi sua referência
para Presente de Oxum. “A partir disso, busquei expandir, fazer algo novo e
diferenciado, e acredito que o objetivo foi bem alcançado.” Segundo ele, a canção está
exatamente em formato de arranjo com partes A e B, como Moa usava, e com o final
se estendendo em uma progressão repetitiva, como um mantra – característica do
ijexá.

“O ijexá é a linguagem que busco trazer para a canção de Moa, com quem aprendi
muito. Tive a sorte de conhecê-lo já compondo uma música com ele, então foi uma
alegria imensa todos os momentos que estivemos juntos”, revela. “Acredito que essa
faixa represente bem os caminhos que vêm para o disco”, diz. “Claro que vamos
passear por outras sonoridades também. Existe uma pesquisa forte dos afrobeats das
décadas de 1960, 1970 e 1980 criados em países da África, mas o ijexá é a matriz, o
cerne que conduz tudo.”

O álbum
Em Moa Vive!, a produção das faixas inéditas ganha novas roupagens nas vozes de
artistas baianos que se filiam profundamente à obra do homenageado: Margareth
Menezes, Russo Passapusso, Márcia Short, Aloísio Menezes, Sued Nunes e Gerônimo
Santana. Ainda, Roberto Mendes e Mateus Aleluia Filho, que tocam violão e trompete,
respectivamente. Na instrumentação, participam outros músicos de talento, como Ivan
sacerdote no clarinete, Vinícius Freitas no sax alto, tenor e barítono, e Matias Traut no
trombone. O disco soma nove canções – sete regravadas e duas das gravações
originais, com vocal do próprio Moa.

A seleção das canções se baseou na força representativa, versatilidade e diversidade
da obra existente, bem como na importância delas para o diálogo com o panorama da
produção musical brasileira atual. Como resultado, elas revelam a habilidade de Moa
em se conectar com o tempo presente, mantendo suas ligações com a cultura afro-
brasileira, os afoxés, o samba duro, a MPB, capoeira e as religiões de matriz africana.
Além do lançamento do álbum, o projeto apresentará um minidocumentário de 20
minutos, com depoimentos de familiares e artistas nos bastidores da produção do
disco. O objetivo é aproximar gerações por meio da música de matriz africana,
valorizando obras que marcaram o repertório de Moa no ijexá, unindo-se com
afrobeats, samba de roda, funk e samba duro.

Sobre Moa do Katendê
Romualdo Rosário da Costa, conhecido como Mestre Moa do Katendê, além de um dos
maiores mestres de capoeira de Angola na Bahia, foi um dos grandes responsáveis pela
reafricanização do carnaval de Salvador e compôs uma valiosa obra musical. Um dos
fundadores do Afoxé Badauê, reintroduziu o ijexá na Música Popular Brasileira no final
da década de 1970. Seu assassinato por razões políticas, em 2018, comoveu ativistas
do mundo inteiro na luta por liberdade, defesa da democracia, justiça racial e respeito às artes – mas foi a sua vida de pouco menos de 64 anos que efetivamente representou essas premissas.

Referência da cultura afro-brasileira, ele deixou importantes produções nas áreas da
música, dança, capoeira, artesanato, confecção de instrumentos musicais de origem
africana e organização comunitária. Desde a década de 1970, exercia um importante
papel de educador, mobilizador comunitário e agitador cultural na comunidade do
Dique Pequeno, no bairro do Engenho Velho de Brotas, em Salvador.
Engajado no processo de afirmação identitária da juventude negra, mobilizou seus
talentos para concretizar um projeto político-cultural de reafricanização do carnaval
baiano. Daí seu empenho em criar um afoxé e promover a participação de artistas e
moradores da comunidade do Dique Pequeno.

Nesse contexto, foi vencedor do festival de compositores do Ilê Aiyê, em 1977. Fundou
o Afoxé Badauê um ano depois e o Afoxé Amigos do Katendê em 1995. O Badauê
adquiriu grande importância no cenário cultural da cidade no final dos anos 1970 e
começo da década de 1980. O bloco foi uma das maiores influências rítmicas da MPB
da época. Artistas como Gilberto Gil, Caetano Veloso, Moraes Moreira, Djavan e
muitos outros beberam da fonte ijexá que jorrava do Engenho Velho de Brotas.
Congregando a juventude negra de distintos bairros e chegando a ter sete mil
membros em um único carnaval, o Badauê alcançou o objetivo maior de um afoxé:
levar às ruas a riqueza cultural negra na expressão de corpos, sons e imagens. A
projeção nacional se firmou quando Caetano Veloso homenageou o bloco com a
canção Badauê, no disco Cinema Transcendental, de 1979.

Como mestre de capoeira e dança afro, Moa viajou pelo país ao longo de quatro
décadas, ajudando a criar grupos de cultura afro-brasileira. Desse modo, acabou por
obter mais reconhecimento como mestre de capoeira e professor de dança afro do
que como compositor ou músico. Sua música é agora reapresentada ao público em
letras e melodias, para que seu legado seja perpetuado e ganhe o devido
reconhecimento.

SERVIÇO:
Rumos Itaú Cultural 2019-2020
Lançamento do single Presente de Oxum
Dia 21 de outubro
Em todas as plataformas de streaming

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Thais Prado
Thais Pradohttp://www.todosnegrosdomundo.com.br
Remanescente de quilombolas, do quilombo da Caçandoca em Ubatuba, formada em Jornalismo, pós graduada em Comunicação Digital e Redes Sociais e formada em Diversidade e Inclusão Social em Direitos Humanos pela USP.
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