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terça-feira, 03 outubro 2023
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Quando passa na faculdade, vira notícia

Foto: Reprodução
Foto: Reprodução

Estudante de escola pública, Bruna Sena, dedicou quase todos os seus dias ao preparo. Foi assim, cursando o terceiro ano do ensino médio numa escola pública de Ribeirão Preto, estudando durante a tarde e frequentando o cursinho popular PET-Medicina durante a noite, que a menina negra de família pobre superou mais de 6 mil candidatos que brigavam por 90 vagas e conquistou o primeiro lugar no curso de Medicina da USP Ribeirão Preto. A jovem, que é a primeira integrante da família a ingressar no ensino superior, se tornou um fenômeno desde o êxito.

As universidades públicas do Brasil são compostas majoritariamente por alunos brancos e que estudaram, toda a vida, em colégios particulares. É assim que foram preparados para o triunfo de carregar no histórico escolar o nome de uma grande universidade, além de tudo, não paga. “A casa grande surta quando a senzala vira médica”, frase que abre o facebook de Bruna Sena, infelizmente ainda tem de ser usada. Mas não deveria. A inserção de negros, pobres, LGBTs e outras minorias na condição de médicos – e de quaisquer outras profissões – deveria ser uma realidade comum. A presença desses grupos na universidade pública seria recorrente se a instituição fosse, de fato, pública. 

Teoricamente, espaços públicos pertencem a uma coletividade. No caso das universidades, coletividade bastante seleta composta por grupos privilegiados. Essa situação se dá também nas instituições privadas que, no entanto, não são ditas “de todos”, nem mesmo na teoria. É por isso que casos como o de Bruna se tornam virais, devido à ausência de minorias nesses espaços que deveriam ser para todos. A história da menina negra e pobre é realmente de superação, principalmente por causa das falhas no sistema educacional, com influências das condições sociais a que a população é submetida.

No mais, pensar na futura médica negra como alguém que sobreviveu a maus bocados e superou sua situação é simples. Mas vale lembrar que, enquanto era apenas a menina negra e pobre do ensino médio, também era necessário falar de Bruna. Primeiramente, porque a pobreza é uma constante em nossa sociedade; porque o ensino fundamental e médio público não atende as demandas do vestibular, é por isso que a jovem foi auxiliada por um cursinho; porque ela é, ainda, a primeira em sua casa a cursar o ensino superior, o que não pode ser considerado natural: esse estágio educacional deve ser alcançado por mais gente.

A conquista de Bruna Sena é imensa. Mas o triunfo do Brasil ainda é pequeno no que diz respeito à inserção das minorias, principalmente nas universidades. Essa deficiência gera outras: muitos negros desempregados, muitos negros encarcerados, poucos negros em cargos altos, dentre outras. As consequências valem também para outras minorias. A senzala tem se tornado médica uma a uma, mas a casa grande ainda detém o poder todos os dias.

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