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terça-feira, 03 outubro 2023
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Projeto pedagógico de Thata Alves ensina filosofia africana

Na última sexta-feira (18), a poetisa Thata Alves lançou seu primeiro trabalho lúdico e voltado ao público infantil: “Baobá é Memória”. O jogo da memória com cartas inspiradas em Orixás, é uma alternativa aos pais e crianças para presentes em datas como o Natal e o Dia das Crianças. Além disso, também tem como propósito proporcionar o aprendizado sobre os Orixás de modo intuitivo e inconsciente pelas crianças. Thata é Abian no Candomblé, e por consequência, o jogo torna-se uma ferramenta para quebrar com o estigma da demonização das religiões de matriz africana. As ilustrações são obra do designer e ilustrador Tag Lima, e o brinquedo está disponível para vendas no site da Thata pelo endereço http://www.thataalvespoetisa.com no valor de R$ 40,00. Quem acompanhou a live de lançamento e comprou no mesmo dia, obteve preço promocional. 

“Eu com meu irmão ganhamos na infância uma Bíblia Infantil: que continha imagens de Jesus em versão de criança”, comenta Thata que também pontua sobre a ausência de mais referências infantis em possibilidades de consumo no mercado, como os próprios brinquedos. No Brasil, existe a lei 10.639/03 que trata da obrigatoriedade do ensino da história da cultura afro-brasileira e africana em todas as escolas, públicas e particulares, do ensino fundamental até o ensino médio. “Pouco efetiva”, comenta Thata que tem como intuito com o jogo também fazer jus à essa lei, introduzindo os jogos em escolas. 

Em licença aos seus ancestrais, e inclusive à sua sacerdotisa religiosa, Ana Rita Dias da Encarnação, a poeta e produtora cultural expõe sua crença sobre  a demonização às religiões de matriz africana, trazer uma leitura do pecado dentro da moral cristã. Essa leitura impede, na ótica da colonização, outro tipo de relação sobre os próprios erros, o que seria a própria responsabilidade na escolha de caminhos a se trilhar. Há filosofias africanas que fazem uma roda para se apontar qualidades dos membros de suas comunidades, mas na ótica da colonização, as rodas apenas se dão para julgamentos e críticas. 

“Baobá é Memória” surge de um momento em que Thata percebe que em meio às demandas urgentes de se criar duas crianças, ela repara que não comprava mais  brinquedos para seus filhos. E neste ano quando decidiu voltar a comprar, não se identificou com nenhum brinquedo no mercado. Com isto em mente, Thata conversa com uma criança da qual seu Orixá é Ossain, o senhor das matas e da cura através das folhas. Há um provérbio africano que diz “Sem folha e sem água não existe Orixá”. 

Outros Orixás que Thata acredita estarem conectados ao jogo da memória são Exú, o senhor da Comunicação; Ogum, o senhor da tecnologia e Oxum, a senhora do amor. “Acredito que foi um presente de meu Orí (a cabeça, a consciência) e de Ogum por me dar esta ferramenta, esta tecnologia, que por meio de saberes ancestrais, vão introduzir de forma mais natural a filosofia de vida que o Candomblé é, além de agregar conhecimento cultural à nossas crianças”, revela Thata. Já Exú para Thata representa a possibilidade de adaptação de linguagem e Oxum como agir com diplomacia perante “às pedras no caminho”. Quais as referências que nossas crianças pretas têm hoje de ancestralidade na mídia? Questiona a poeta, que cita entre os exemplos os heróis da ‘Liga da Justiça’, entre outros personagens dominados pela branquitude. 

Valores africanos como a humildade, o respeito aos mais velhos, e a oralidade, fazem parte do conceito deste jogo. Outro estigma que Thata quer transcender a partir deste trabalho é o de “poeta periférica”. “Percebo que até em negociações de cachês com contratantes, quando colocamos nosso trabalho nessa caixinha, não somos tão valorizados quanto nossos próprios trabalhos merecem. Um artista contratado pela Rede Globo, que venha do Vidigal, não é lido como um artista periférico”, reflete a artista e afroempreendedora. 

Antes de se tornar poeta e produtora cultural, Thata tinha o sonho de ser Secretária, pois achava que era uma profissão “chique”. Muito inspirada em seu pai, que é marceneiro e sonhava junto com ela, que ela pudesse um dia alcançar este lugar. Mas, aos 13 anos de idade Thata foi trabalhar em uma empresa em que a proprietária e empresária, Marinete Gruninger, já tinha o propósito de se ter um quadro de funcionários somente composto por negros. Uma visão de Black Money muito antes desta que vem sendo impulsionada na sociedade pós-George Floyd. 

Já seu caminho até se tornar poeta envolve a inspiração de sua própria mãe, Ione Alves. Thata gostava de como ela mesma diz “curiar” os cadernos e agendas de sua mãe. Neles, ela tinha acesso à versinhos, papéis de carta, salmos, hinos, mas também a muita poesia. Ora poemas escritos por ela mesma, ora versos dos quais ela anotava de autores. “Eu lia, e eu achava aquilo tão bonito, ainda lembro da agenda marrom dela”, relembra Thata.  

Para 2021, a paulistana tem planos de lançar um novo livro, já que além de poeta e produtora cultural, é também escritora e autora das obras: “Em Reticências”, “Troca” e “Ibejis”. Além disso, também pretende comemorar os sete anos de “Sarau da Ponte pra Cá”, o qual ela é idealizadora; assim como também continuar com seu programa “Thata Troca” em seu canal do Youtube.

Sobre Thata Alves
Thata Alves, filha de Ione Alves e Custodio Souza, é uma artista multimídia, que transita entre vídeo, performance e poesia. Esse bailar nas palavras lhe permitiu ousadias como ser a precursora do Sarau da Ponte pra Cá há 7 anos. Ela articula, produz e organiza a realização deste evento. Em 2016, Thata Alves reuniu seus versos e os publicou de maneira independente seu primeiro filho/livro de poesias chamado “Em Reticências”. Já em 2017 lançou sua segunda obra  literária, o livro “Troca”; e em 2018 lançou seu primeiro livro infantil, com base nas vivências de seus filhos gêmeos, Bryan e Brenno, denominado “Ibejis – Poesias do meu ventre” toda essa trilogia é lançada pelo selo Academia Periférica de Letras. Thata também participa e propõe espaços de discussão , além de trabalhos em parceria com os coletivos Praçarau, Slam das Minas, CITA (Cantinho de Integração de Todas as Artes) e a Casa de Cultura Candearte.
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Sobre Sarau da Ponte pra Cá

O projeto Sarau da Ponte Pra Cá acontece desde setembro de 2014, tem como principal objetivo dar continuidade a uma importante ação de difusão cultural e ressignificação do espaço público que vem acontecendo continuamente há quase cinco anos, de forma voluntária no bairro do Campo Limpo – periferia sul da cidade de São Paulo. Atualmente acontece na Praça João Tadeu Priolli (Praça do Campo Limpo) em parceria com o Espaço Cultural CITA – Ponto de Cultura gerido por diversos coletivos artísticos da região. O Sarau da Ponte Pra Cá, idealizado pela poetisa, mulher negra, artista multimídia e mãe Thata Alves junto a outras mulheres negras, promove intervenções de artes plásticas, descobertas de novos artistas e poetas, lançamentos de livros, shows de música e cultura popular, economia solidária, tudo isso em plena praça, na 1a segunda feira de cada mês no período noturno com total acesso de crianças, jovens e adultos da comunidade local, estudantes do entorno e especialmente pessoas em situação de rua que vêm no sarau a possibilidade de se expressar e repensar suas existências neste território

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Cristhiane Faria
Cristhiane Faria
Cristhiane Faria aka Nega Cléo é poeta, slammer, modelo, dançarina, arte-educadora e Fundadora da GRIOT Assessoria, agência de Relações Públicas com a missão de perpetuar as histórias de artistas, eventos, projetos culturais e criadores de conteúdo pela mídia e na internet. | Contato: [email protected]
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