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terça-feira, 03 outubro 2023
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Juliana Borges é a curadora de “Confinamentos”

A escritora e estudiosa Juliana Borges é a responsável pela curadoria "Confinamentos", que estreia em 10 de maio e vai até 04 de julho pela Videobrasil Online.

A escritora e estudiosa Juliana Borges é a responsável pela curadoria da exposição “Confinamentos”, que estreia dia 10 de maio e vai até 04 de julho. E isso me lembrou de uma situação.

Você se lembra do Dr. Carl Hart? Ele é neurocientista e psicólogo, um dos primeiros professores negros titulares na Universidade de Columbia. Mas aqui no Brasil um dos motivos de ele ter tido certa notoriedade foi o fato de ele ter sido supostamente barrado no hotel em que estava hospedado em 2015. Por estudar, entre outras coisas, sobre a “guerra às drogas”, uma de suas observações a respeito deste incidente foi justamente o fato de ele mal ter se sentido atingido pela situação. Um segurança achou que ele não pertencia ao ambiente, mas outras pessoas foram prontamente se justificar quando perceberam o que estava acontecendo.

O que ele apontou é que essa não é uma situação isolada e que não fazia sentido ter tantas pessoas preocupadas com este incidente quando temos tantas outras pessoas negras comuns que precisam de apoio e visibilidade e não têm.

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Juliana Borges: “Confinamentos”

Lembrei deste episódio quando soube desta exposição porque há uma temática semelhante na obra do Dr. Carl Hart e de Juliana Borges. Ela estuda sobre política criminal e, nesta exibição, traz reflexões acerca de temas que vão do encarceramento em massa aos interditos do racismo, da ideia de manicômio às prisões políticas, da criminalização da homossexualidade à perversidade do monitoramento digital. Poderia citar outros autores aqui como Lélia Gonzalez, que se interessava muito pelos interditos do racismo, ou ainda Tarcizio Silva, que cuidou da organização do livro “Comunidades, algoritmos e ativismos digitais: olhares afrodiaspóricos”.

Mas me lembrei do Dr. Carl Hart porque em seu livro “Um Preço Muito Alto”, me lembro de ele descrever experiências pessoais que mostravam que seu sucesso não estava necessariamente relacionado com seu caráter, mas com a não intermediação da polícia em seu caminho, ou melhor, com o fato de não ter sido preso, como muitos dos homens negros com os quais convivia, ainda que tivessem comportamentos muito parecidos. E, depois disso, ao se envolver com a ciência, nos prova que nossa percepção das drogas está mais relacionada ao estigma do que a dados.

Já em “Confinamentos”, Juliana Borges nos faz refletir sobre questões como: “Como pensar nas condutas criminalizadas e nos corpos marcados por essa criminalização? O que configura um sujeito suspeito e o outro cidadão de bem? Quais são as variáveis possíveis de confinamento? Não apresentamos respostas, mas antes um ponto de reflexão e inflexão para superarmos as fronteiras e os muros das verdades relativas, construídas por interesses alheios aos direitos inalienáveis que nos são usurpados cotidianamente. Esse é um convite para nos olharmos no espelho, romper silêncios e preconceitos, superar confortos e ser ponto fora do lugar”.

Juliana Borges, autora de “O que é encarceramento em massa?”
A escritora e estudiosa Juliana Borges, autora da obra “O que é encarceramento em massa?”

Estreia

“Confinamentos” estreia em 10 de maio, através da Videobrasil Online. A exposição mostra lança um olhar abrangente para três décadas de acervo histórico da plataforma. Composta por obras de personalidades como Coco Fusco, Frente 3 de fevereiro, Kiko Goiffman, Megan-Leigh Heilig, Lucila Meirelles, Juvenal Pereira e Alyona Larinokova, programação inclui documentários, intervenções performáticas, vídeo-montagem fotográfica e uma série de narrativas visuais que somam uma ampla gama de indagações ao tema da política criminal, campo de especialização da curadora e foco de seus livros ‘Encarceramento em Massa (2019) e ‘Prisões: Espelhos de Nós’ (2020). 

O resultado, para Solange Farkas, diretora do Videobrasil, desenha um exemplo acabado de como uma questão contemporânea pode ser iluminada por um acervo histórico e vice-versa. “É importante destacar que se nos vemos hoje em um ambiente pouco propício à expansão das parcerias e dos projetos culturais marcados pela defesa da diversidade, da liberdade, do pensamento comunitário e da ampliação das consciências, por outro nunca tivemos tanta certeza da importância de manter vivo – e ativo – um dos acervos mais significativos da produção em vídeo do Sul geopolítico do mundo. Que é, ainda, uma fonte inestimável de pesquisa sobre uma produção artística que tem como marca fundadora e traço recorrente justamente um uso político, combativo e libertário do vídeo”.

Os potentes trabalhos de Caco Souza, Erin Coates, Fernanda Gomes, Luciana Barros, Marcello Mercado, Maria de Oliveira, Marta Nehring e Nilson Araújo também estão na exposição. 

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