Era noite. As estrelas deviam velar o caminho daquele carro e fazer brilhar ao menos a luz da justiça. Faz um ano e, mais do que o mundo chorando a perda de Marielle, Luyara deve chorar duras lágrimas cada vez que lembra da mãe e Arthur, de dois aninhos, sequer deve entender a ausência de seu pai, Anderson.
É verdade que todos perdemos um pedacinho nosso naquele catorze de março. Mas quaisquer palavras ditas ou escritas não são suficientes para narrar a dor de quem compartilhou a vida com quem partiu. E, mais ainda, observou de longe tanta gente fazer uso de um nome que não conheceu para se promover nas pautas.
Foi um ano intenso: algumas placas escritas, outras quebradas, camisas confeccionadas, paredes pintadas, corpos escritos. Tantas vezes, às duras penas da militância, saíram às ruas carregando cartolinas com o nome de Marielle, mas esqueceram de olhar e ver se sua família também estava ali.
Tantas vezes, oponentes políticos tentaram tornar ilegítima a luta de uma mulher negra que tanto batalhou pelos direitos humanos. Mais do que isso, quantos comentários nas redes sociais incitavam ódio ou justificavam o crime cometido contra Marielle Franco?
Agora, então, suspeitos pela morte de Marielle Franco e Anderson Gomes presos na semana em que sua execução completa um ano. É como se, mais uma vez, esses nomes fossem usados para promoção de alguém, quase como uma estratégia publicitária – e, como se não bastasse, o mandante dos crimes ainda não foi apontado depois de um ano de investigação.
Quanta dor carregamos por tantas injustiças feitas contra quem pedia por direitos. E, se carregamos tanta dor, maior ainda é o fardo de quem carrega no sangue a história dessas pessoas. Um ano sem Marielle Franco e Anderson Gomes: ainda pedimos justiça e levantamos a placa da sensibilidade por quem partiu e por quem ainda está aqui.
