Selecionado pelo programa de Fomento Carioca (Foca), da Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro, o projeto “Experiência Griot” promove 15 oficinas gratuitas em bibliotecas e lonas culturais públicas da cidade. A proposta é divulgar a importância dos griots, mestres responsáveis pela memória afetiva e pela transmissão oral da cultura africana.
Liberté: A liberdade depende do ponto de vista
Fonte de saberes ancestrais, os griots são contadores de histórias, cantores, poetas e músicos da África Ocidental, como o percussionista Pape Babou Seck, que vai comandar as oficinas do dia 29 de abril até 27 de maio, a maioria voltada para escolas municipais do Rio. A ideia do projeto é da artista e produtora Adelly Costantini.
“Formei-me como artista na cidade do Rio de Janeiro e acabei virando produtora, me envolvendo com diversos projetos, inclusive voltados para a infância. Quando conheci Pape, sonhei com essa circulação para as crianças, especialmente neste período pós-pandemia. Pape é senegalês, de uma região onde os griots, pessoas encarregadas de transmitir sua cultura adiante, através de histórias, música e arte em geral, são de extrema importância para a formação do indivíduo e da sociedade. E olha que bonito: um país colonizado como o nosso, tão acostumado a ouvir histórias europeias, agora pode abrir suas portas, seus teatros, suas bibliotecas para ouvir sua ancestralidade, aprender e reconhecer suas histórias. É um prazer poder fazer parte desse movimento de muitos artistas, educadores e pensadores, trazendo África para o centro da programação cultural da cidade”, empolga-se Adelly.
Os griots são muito importantes para a transmissão dos conhecimentos dentro das culturas de diferentes países africanos. Ser griot significa estar comprometido a guardar as histórias, a guardar uma genealogia e viver como um registro vivo, com instrumentos, elementos e rituais de iniciação. É como um historiador que trabalha com o canto e a memória, ou mesmo, uma própria biblioteca ambulante, viva, que se comunica. A oralidade, para eles, é sagrada e transmissora da paz como potente expressão pedagógica. Um griot nasce griot já que a herança é passada de pai para filho.
O projeto “Experiência Griot” é de grande impacto pedagógico por envolver memória afetiva, território, heranças culturais, criação de subjetividade e, principalmente, sentimentos de empoderamento e pertencimento cultural.
“Eu sou um griot senegalês e, por isso, espero, com essas experiências voltadas para a divulgação das culturas ancestrais africanas, poder dividir com o público um pouco da história do meu país e os conhecimentos herdados pela minha família. A cidade do Rio de Janeiro já é muito rica de expressões negras ligadas à língua, à música, à dança, aos costumes e aos comportamentos. Muitos aqui estão envolvidos com esse estudo. Espero poder fortalecer ainda mais esses conhecimentos com o projeto ‘Experiência Griot’, criando um repertório de movimento de percussão, das sonoridades, da história e das ‘palavras dos tambores'”, explica Pape Babou.
*O termo “griot” vem da palavra ‘guiriot’, em francês, e da palavra ‘criado’, em português. Franceses e portugueses realizavam trocas comerciais com países da África Ocidental, transformando algumas palavras tradicionais em expressões nas línguas dos colonizadores. Na língua portuguesa, ‘griot’ é ‘griô’.