Maria Freitas vive rabiscando. E de seus rabiscos diários já nasceram vários personagens.
Por Ana Luiza Basílio
Maria Freitas vive rabiscando. E de seus rabiscos diários já nasceram vários personagens. Mia Wallace, Vincent Vega e Jules Winnfield, do filme Pulp Fiction; Donnie Darko; Samurai Jack; Galadriel e Gandalf, do criador Tolkien são só alguns nomes de uma lista que já contempla mais de 100 e que conta também com criações autorais. A novidade: todos eles são negros.
A inovação vem das mãos da jovem negra estudante de 17 anos que, desde a infância, busca uma questão identitária nos personagens consagrados de quadrinhos e filmes. “Na infância, eu queria, como toda criança, me espelhar em personagens que eu gostava, mas quase nenhum era parecido comigo. Não via heroínas ou personagens fortes que fossem negras, iguais a mim. Lembro que havia o Super Choque ou o Lanterna Verde, mas por que só alguns, se poderiam existir muito mais?”, relembra.
Maria conta que a ideia de recriar os personagens veio há um ano, estimulada por essa percepção de que os negros raramente estavam contemplados nessas histórias. “Quando apareciam, vinham dentro de estereótipos racistas, como o palhaço, o malandro, o ruim… Isso me deixou triste porque negros e negras podem, sim, desempenhar um ótimo papel dentro do entretenimento e serem reconhecidos por isso”, observa.
Igualdade e representatividade
Partir para a recriação desses personagens, para Maria, tem a ver com a representatividade negra, com o ser e o estar, “podemos ser tudo o que quisermos”, enfatiza. Também está posta uma questão de igualdade, como explica: “colocar um ou dois personagens como notinha de diversidade de um enredo e logo em seguida dar sequência à história, descartando-os, não é considerá-los iguais e importantes”, critica.
Cada novo personagem que surge ganha espaço em sua página no Facebook “O Mago Rosa”, que traz a descrição: “pintando o mundo de preto com as cores do arco íris!”. A estudante conta que, além de querer promover reflexão, as criações acabam por ilustrar suas próprias histórias e projetos, caso do Negras Motivacionais, que busca discutir as questões sobre negritude por meio de personagens negras e mulheres reais que Maria retrata.
Mulher, negra, estudante…
Maria integra a realidade que quer mudar. “Já sofri violência física duas vezes por racismo. Além de incontáveis episódios de machismo, inclusive de outras mulheres negras, o que só reforça o quanto temos que mudar para melhorar isso”, critica.
A estudante do 3º ano do Ensino Médio entende que a escola, como espaço de educação e orientação, tem que discutir temas como racismo e igualdade de gênero, já que são temáticas que fazem parte do dia a dia das crianças e jovens. “Ninguém está salvo de ser alvo do racismo ou machismo. A escola deve orientar quais comportamentos ou ações devem ser evitadas ou estimuladas, provocar questionamentos, fazer reflexões. É fundamental ensinar que mesmo não sendo iguais, deve haver respeito entre todos”, finaliza.