Estive na Etna, lembrei de você – preconceito racial ou mi-mi-mi!?
Por Carol Lee
Preenchendo o tempo até as merecidas férias, dando pinta num shopping da minha cidade, decidi fazer algumas comprinhas numa renomada loja de casa, cozinha e decoração. Após alguns giros, com o carrinho já cheio, algo pendurado na parede chamou a minha atenção, imediatamente.
Aproximei-me entusiasmada, acreditando ser um objeto de decoração daqueles que a gente pendura pra dar um UP no ambiente – que para este propósito, me pareceu SO COOL – porém, surpresaaa!
O tal objeto, a princípio tão interessante, trata-se de um tapete desses pequenos que as pessoas colocam na porta de casa para limparem os pés ao entrar – o nacionalmente conhecido “capacho”.
Espantada com o propósito do objeto passei a correr os olhos por todos os demais capachos que havia por lá, à procura de qualquer outro tapetinho de boas vindas – de se esfregar os pés, socorro!!! – que fizesse menção a pessoa de outra raça, além da minha!
E, a resposta é quase óbvia, não teeeem!
Ah, mas não deixei de fazer a aquisição, pois eu queria mostrar a vocês, ouvir a sua opinião e mais do que isso, precisava configurar o delito, deles: estão vendendo essa imagem linda, de um negro black-power como capacho!!?? Tirei o cartão de crédito da bolsa em sinal de protesto, como se eu pudesse salvar ao menos um dos nossos jovens, oferecendo um merecido lugar a ele, que com certeza não é para ser pisoteado!
Em casa, já com essa controversa peça de design em mãos, me resta definir a parede que vai ganhar destaque com o lindo formato dos cabelos e as deliciosas cores que nos remetem de imediato aos 70s. Tô até pensando numa pool party, com o melhor da black music, no meu retorno, para estrear a decoração!
Mas antes da festa, a reflexão: negro capacho: preconceito ou só mi-mi-mi, da minha parte?
Para a turma do deixa disso, incluindo criativos e bem humorados, fascinados com a tecnologia que permite fazer logomarca, bandeira de país e outras invenções como capacho, trago mais referências da atualidade: o vergonhoso o número de garotos negros assassinados anualmente no Brasil (vale um post só para o assunto), conforme indica a pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública em parceria com a Unesco. O jovem negro supera em 2,5 vezes a possibilidade de ser vítima de homicídio comparado ao jovem branco.
Em linhas gerais, a população no Brasil é metade negra e metade branca. Mas as mortes violentas atingem 3 vezes mais o lado dos nossos filhos e sobrinhos, tão semelhantes a essa figura black power, do que o outro lado. Como podemos varrer essa informação para debaixo do tapete? Dá para aceitar isso?
E pra lacrar a reflexão com opinião bem particular – tolerar o preconceito fazendo “vista grossa” às diversas, traiçoeiras e veladas manifestações de racismo como a exemplificada nesse episódio “capacho”, nos torna também preconceituosos. Não dá! Temos, sim! que ter vários papos-retos sobre o assunto.
E para não deixar espaço pro mi mi mi, deixo dicas – negro capacho não vai caber no século XXI:
Para a loja em questão: estamos esperando a retratação (e atitude) dos senhores!
Para a Sepir (Secretaria da Igualdade Racial) em seu Estado: hã, não tem Sepir em seu Estado!!!??? e vc vai votar em quem!? helloooo!!!
Para os criativos: pensou numa linha Black Power, pense em prataria, enxoval de cama, mesa de banho, luminárias (já pensou nas cores!?), compramos tudo, até capacho! Ou pense que ao lado do capacho BlackPower, vai o RockStar, o Sertanejo e o Gangnam Style… igualdade racial, pegou!?
Sou a Carol Lee! Amo moda, o que é ótimo para a carreira! Viajo o mundo a trabalho e minhas outras curtições! Tenho alegria de partilhar minha visão com você em TNM!