O TNM está mostrando o diário de uma bailarina e mulher negra que roda o Brasil conhecendo os vários tipos de dança Afro que temos por aqui. Camila Camargo nos leva por uma viagem cultural e experimental pelo universo da dança Afro. Essa é a segunda parada da nossa bailarina nessa série. Se ainda não viu a primeira parada, clique AQUI.
Por Camila Camargo
Fotos: Maria Constanza Rolón Soto
Parada 2: Festival Internacional Stage Camp Africa Raices 2016 em Florianópolis
Faz quatro anos que Daniela Sankaranka, do Chile, e Djanko Camara, do Senegal, com uma equipe de amigos do coletivo Abayomi, deram vida ao Festival Internacional de Cultura Africana na América Latina: Stage Camp Africa Raices. O amor pela dança, percussão, canto e acima de tudo, amor pela a cultura Mandingue presente no oeste africano, transformou o sonho do evento em realidade.
O Africa Raices, em 2016, na quarta edição – terceira no Brasil, reuniu cerca de 350 pessoas entre os dias 19 e 27 de fevereiro, vindas da América Latina, México, Japão, França, Espanha, Estados Unidos, Canadá e Suíça, na cidade de Florianópolis. Todos com o mesmo objetivo: uma imersão de nove dias nas tradições Mandingue.
As aulas de canto, dança e percussão ocorreram durante 8 horas diárias, simultaneamente, nas diferentes turmas de nível iniciante, intermediário e avançado, além de aulas eletivas de danças afro brasileiras, afro colombianas, freestyle mandingue, turbantes, encouramento de tambores, educação ambiental, entre outras. Uma experiência intensa realizada sob o olhar atento dos mestres do Senegal, Mali e Guiné: Youssouf Koumbassa, Bolokada Conde, Petit Adama Diarra, Assetou Diabaté, Babara Bangoura, Fall Madior Dieng, Djanko Kalaban Camara, Max e Bayfall (Baye Fall African Rhythms).
FOTOS DOS MESTRES
Todos nós, participantes, ficamos acampados no Parque Estadual do Rio Vermelho. Uma área verde de 3 hectares de preservação, que abrigou espaços para refeições, barracas, aulas, exposições de trabalhos, festival e muita troca de aprendizados e diversão.
Os dias iniciavam com um café da manhã reforçado. Em seguida, duas aulas: de dança às 8:30 e percussão às 10:30, sem intervalo. O almoço, como as demais refeições, era preparado pela equipe dos chefs Antônio e Pedro Rocha, com foco em alimentação natural, às 12:30. Cada participante com seus pratos, talheres e copos, trazidos de casa, dispensava o uso de materiais descartáveis. A programação seguia com aulas eletivas com 1 hora de duração, previamente escolhidas pelos participantes. Às 15:30 mais uma aula de dança seguida por mais uma aula de percussão. Entre as duas, era servido o coffee, que era composto basicamente por frutas e sucos, apenas para reposição de energia até que fosse servido o jantar.
As filas que se formavam para nos servirmos a cada refeição era motivo de festa. Ritmos brasileiros eram tocados ao som de talheres e pratos e vozes animadas. Passos de dança eram repetidos inúmeras vezes para que não fossem esquecidos e as frases de percussão cantadas como forma de reforço ao que havíamos aprendido durante o dia.
Entre o jantar e às 23 horas, horário de término das atividades e início do horário de silêncio, havia apresentação de dança, música, rodas de discussão e apresentação de documentários. Cada dia uma atividade diferente que envolvia todos os participantes e promovia troca de saberes entre pessoas com diferentes experiências e interesses em comum. Oficialmente as atividades eram encerradas aí. Aqueles que ainda tinham energia depois de um longo dia de atividades, se reuniam, seguiam uma trilha de mais ou menos um quilômetro até a praia e lá a festa continuava.
Coco, Samba de roda, Jongo, Cumbia, Candombe, Djole, Dunumba… Assim como o local de origem de quem participou do Stage Camp 2016, os ritmos tocados eram os mais variados. Os toques de percussão eram sempre acompanhados de nossas performances de dança, e não teve chuva ou cansaço que fizesse com que as festas acabassem mais cedo. Todos os dias, havia um encontro diferente na praia, a luz da lua cheia e da fogueira.
O penúltimo dia foi momento de revisar o conteúdo, enquanto o último, de apresentações artísticas. Foi um festival que contou com a presença de visitantes da Ilha e a participação das bandas e grupos: La Clinica, Três Marias, Afrovalpo Escuela, Ensamble Estacion, Arte SinPausa, Duo Liberte, Soonanda, Arrasta Ilha, Molungo, DJ Gajeta e Coletivo Abayomi.
A minha intenção ao participar do Stage Camp era realmente de aprender todos os ritmos tocados, dançados e cantados. Ritmos como Yankadi, Makru, Sinté, Kanya Solí, Wolosodon, Tansole, Didadi, Djole, Gumbé, Sorsonet, Sunun, Dundun dance e muitos outros. Aprendi muito sobre costumes, histórias e também sobre esses ritmos, mas nada se compara ao aprendizado de viver esses momentos com pessoas que também estiveram entregues aquela experiência. Conviver, estudar e festejar com aquelas pessoas foi um dos melhores momentos dessa vida.
Ouvi dizer que ano que vem tem mais. Fiquem de olho, porque vale a pena: Festival Internacional de Cultura Africana na América Latina: Stage Camp Africa Raices 2017.
Camila Camargo é negra e bailarina, aspirante a produtora cultural e a percussionista. É formada em Publicidade e Propaganda pela ESPM-Sul e especializada em Design Estratégico pela UNISINOS em Porto Alegre. Está sempre buscando as melhores experiências que o mundo pode proporcionar e os aprendizados que elas trazem. Muito ligada à espiritualidade, tem como intenção de vida criar movimentos de conexão.