Alemão 2 estreia exclusivamente nas telas do cinema no dia 31 de março. Aqui no TNM não somos muito de divulgar narrativas violentas porque esse tipo de produção envolvendo pessoas pretas já recebe bastante repercussão da mídia. Então talvez você esteja se perguntando: “Ué, então o que Alemão 2 está fazendo aqui?!” Bom, a ideia justamente é divulgar um filme que vai na contramão dessas barreiras.
Alemão 2 e as narrativas negras
Há muito apontamos (e é claro que não estamos sozinhos nessa e nem criamos uma nova bandeira, mas pessoas pretas mundo afora falam sobre) a importância de envolver pessoas pretas nas tomadas de decisão de diferentes áreas.
O assassinato de George Floyd, que hoje já parece tão distante e ultrapassado para algumas pessoas, trouxe à tona uma série de movimentos que surpreenderam apenas aqueles que não estavam minimamente envolvides ou conscientes do que acontece ao seu redor.
Mas serviu para levantar discussões e dar visibilidade para projetos como o Hollywood 4 Black Lives, que fala sobre a importância de deixar de apoiar financeiramente instituições e produções policiais e sobre a importância de contratar pessoas negras para além de atores e atrizes ou ainda projetos como o de Laverne Cox, que produziu e atuou numa série trans em que ou só havia pessoas trans por trás das câmeras ou uma pessoa cis que deveria compartilhar seu conhecimento para que outras pessoas trans pudessem aprender.
Marton Olympio, diretor e roteirista, há tempos trabalha para subverter a perspectiva estereotipada das produções audiovisuais. Em 2019, escreveu o longa Alemão 2, sequência do grande sucesso de 2016. Sobre os diferenciais, em suas próprias palavras, é possível saber:
“[…] Embrulhar como filme de ação um roteiro em que realmente pode se dar voz a pessoas pretas – o policial que se acha herói, a delegada que ainda acredita em seu trabalho, o traficante que só queria ser militar, a moradora que entende sua importância transformadora na comunidade, a heroína que definitivamente não acredita em heróis – e ao mesmo tempo mostrar que a paz na verdade “é de quem tem a vista melhor” – como diria um dos personagens mais cínicos da trama […]
Alemão mostra que essas guerras são de todos nós que moramos nos andares mais baixos.
Ao ver a espetacular Mariana Nunes dizendo a frase que abre esse texto durante a pré-estreia no Festival do Rio, todo arrepiado tive a certeza de uma escolha acertada.
E que existe uma forma realmente diferente de escrever este gênero sem caricaturas, sem maniqueísmos, sem white saviors e acima de tudo mostrando um novo olhar sobre o mesmo espaço.
Tudo através de artistas talentosos como Digão Ribeiro, Aline Borges, Danilo Ferreira, Juan Paiva e nada mais nada menos que a diva Zezé Motta. Sim, eu já escrevi para Zezé Motta.”
Sobre Marton Olympio
Diretor e roteirista com especialização em direção de atores e roteiros na EICTV em Santo Antonio de Los Baños, Cuba.
Trabalha há mais de 20 anos com roteiros, sendo roteirista do longa-metragem Sequestro Relâmpago (Globo Filmes, dir. Tata Amaral) e das séries Santo Forte (AXN), As Canalhas (GNT), Natalia (TV Brasil), Prata da Casa (FOX) e Jungle Pilots (Universal), além de ser diretor e roteirista da séries Musas (Canal Brasil), Paixão FC e A Dona da Banca (CineBrasilTV).
Desenvolveu os roteiros da nova temporada de Cidade dos Homens (2018) e para a série Os Experientes (2020), ambas para a Rede Globo.