09 de Fevereiro de 1944. Chegou ao mundo quando a Segunda Guerra ia embora. Ainda bem. Foi uma semente plantada por um casal de agricultores. A colheita, na verdade, foi nossa. Alice Walker era dada à luz.
Criança, foi atingida por uma arma de chumbinho. Perdeu a visão do olho direito. Mas dizem que ver não é enxergar. Sempre enxergou com nitidez. Talvez por isso tenha se isolado. A vida pode ser cruel quando se perde algo. Quem sabe, para se defender, passou a observar o mundo.
Alice, então, fez da vida poesia. Se formou no colegial. Partiu com o necessário: mala, máquina de costura e máquina de escrever. Enxergou a necessidade de direitos civis. Conheceu Martin Luther King. Lutou pelo fim do racismo. Bradou a voz da mulher negra.
Mais tarde descobriu, em seu ventre, uma vida. Não gerou alegria. Pensou suicídio, guardou a navalha por perto um tempo. Na mesma época, Walker transformou angústia em livro. Abortou em segurança. Fez valer o que sentia seu coração. Não podia ser mãe, não foi. Mais tarde, engravidou de um homem que amava. Perdeu o filho por complicações. Tudo lhe rendeu palavras. Até que nasceu Rebecca.
Já casada, decidiu dar fim ao relacionamento. Mas nunca deu fim à palavra. Foi Alice Walker uma das maiores ativistas que os Estados Unidos conheceu. Responsável por boa parte da conquista sobre os direitos dos negros e das mulheres, lutou contra o Apartheid. Pediu também o fim da frieza da lâmina contra os órgãos genitais das mulheres em países africanos.
Uma de suas obras mais conhecidas é o romance A cor púrpura, que foi transformado em filme pelo diretor Steven Spielberg em 1985. A escrita de Alice traz elementos do cotidiano das relações humanas de forma densa através da complexidade desses laços. São histórias e poesias que ressoam nas mulheres negras que têm contato com sua obra e se vêem representadas.
Ainda hoje, aos 73 anos, Alice Walker permanece enxergando e nos fazendo enxergar.