Pés descalços caminhando sobre as matas de Oxóssi, ao lado das águas de Oxum. É assim que começa o clipe “Periferia é um Pedaço da África”, de Amanda NegraSim. O som de palmas junto a vozes ancestrais embala o som que arrepia a qualquer um cujo ori pertence aos orixás. Logo, frente às águas de Iemanjá, Amanda brada a história de nossos ancestrais, lembrando mais que a escravização dos negros: a rapper traz à memória que os corpos tinham donos, mas a mente sempre foi livre.
“Suplicando por vitória, Mama África chora”, brada a mulher preta que cresceu em meio ao atabaque e o agogô. NegraSim cresceu sambando conforme a música: a cultura negra sempre foi valorizada dentro de sua casa. Caminhando com os orixás, a cantora entendeu que a opressão não a alcançaria. Além disso, aceitou seu chamado: “salvar almas”. Com muita força na voz e reverência no corpo, Amanda agradece aos orixás.
No “terreiro lindo” chamado periferia, o canto de guerra da artista se desenvolveu. Em suas obras, Amanda coloca em xeque a suposta fragilidade feminina, defendendo os ideais do Movimento Negro e da Mulher Negra, Pobre e Periférica. Enaltece a ancestralidade enraizada na crença. A rapper não esconde o axé que carrega. Pelo contrário, o dissipa sobre o público. É de arrepiar.