Na semana passada, um artigo publicado pela Folha de S. Paulo chamou a atenção. O autor Antônio Risério achou que seria pertinente escrever sobre o “racismo” de negros contra os branco e é claro que o tema, totalmente fora da realidade, causou indignações das redes sociais. Na reportagem realizada pelo Brasil de Fato, “Artigo na Folha cita supremacismo negro e provoca reações: “Colunista e jornal racistas”, é possível ficar a par das opiniões de antropólogos e acadêmicos negros.
Mas essa não é a primeira vez que o veículo solta opiniões contraditórias. Vale lembrar que a escritora e ativista Sueli Carneiro preferiu se retirar do grupo de colaboradores do jornal. Mesmo com o burburinho nas redes sociais, a empresa em si não divulgou nenhum comunicado oficial, porém a atitude de 186 jornalistas mostra que racismo não é um assunto banal.
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“Nós, jornalistas da Folha aqui subscritos, vimos por meio desta carta expressar nossa preocupação com a publicação recorrente de conteúdos racistas nas páginas do jornal. Sabemos ser incomum que jornalistas se manifestem sobre decisões editoriais da chefia, mas, se o fazemos neste momento, é por entender que o tema tenha repercussões importantes para funcionários e leitores do jornal e no intuito de contribuir para uma Folha mais plural.
O episódio a motivar esta carta foi a publicação de artigo de opinião intitulado “Racismo de negros contra brancos ganha força com identitarismo” (Ilustrada Ilustríssima, 16/1), em que Antonio Risério identifica supostos excessos das lutas identitárias, que estariam levando a racismo reverso. Para além de reafirmarmos a obviedade de que racismo reverso não existe, não pretendemos aqui rebater o que afirma o autor —pessoas mais qualificadas do que nós no tema já o fizeram, dentro e fora do jornal. No entanto, manifestamos nosso descontentamento com o padrão que vem se repetindo nos últimos meses.”
Trecho da Carta aberta de jornalistas da Folha à direção do jornal
A posição da Folha e a falta de representatividade nas redações
Em pleno 2022, é complicado pensar o porquê de tais opiniões, que não têm o menor embasamento, ganharem força suficiente para serem aprovadas e publicadas. O sistema racista é um tentáculo, ao mesmo tempo que o veículo incentiva vagas para a capacitação de jornalistas pretos, aceita uma visão totalmente racista. Isso porque ainda falta muito para as grandes redações se conectarem com a realidade.
O jornalismo foi e ainda é uma profissão elitista. Para mudar, ainda falta muito e, o mais importante, requer vontade de sair da zona de conforto. Sabemos que uma carta de repúdio, muito provavelmente assinada por pessoas brancas, não é a revolução necessária, mas não deixa de ser um passo. Se impor perante a um editorial em plena crise da comunicação tradicional em um país com alto nível de desemprego é no mínimo corajoso.
Em outro trecho da carta aberta, os jornalistas fazem um questionamento bem posicionado: ” […] a Folha não costuma publicar conteúdos que relativizam o Holocausto, nem dá voz a apologistas da ditadura, terraplanistas e representantes do movimento antivacina. Por que, então, a prática seria outra quando o tema é o racismo no Brasil?”
Racismo é assunto de todos e deve ser tratado com respeito. Nas redes sociais, alguns jornalistas prestaram solidariedade aos colegas. Além disso, o Coletivo Lena Santos de Jornalistas Negras e Negros de Minas Gerais também publicou uma nota no último domingo.
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