Contar a conhecida tragédia de Shakespeare sob a perspectiva de um ator que provavelmente não seria escalado para protagonizar uma montagem clássica de “Romeu e Julieta”. Esse é o mote do espetáculo “Eu, Romeu”, que estreia no dia 29 de março, às 19h através da plataforma Zoom, com recursos do Governo Federal, do Governo do Estado do Rio de Janeiro e da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro, através da Lei Aldir Blanc.
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O solo apresenta uma dramaturgia autoral e contemporânea e é protagonizado pelo ator Marcos Camelo, que também assume o roteiro e o figurino do espetáculo. A direção artística é assinada por Cecília Viegas, que destaca que esta é uma história narrada por um homem preto.
“O argumento surgiu justamente pelo espanto que me causava toda vez que Marcos, que também é meu marido, me contava tudo que ele já passou ao longo da vida em função da cor de sua pele. Situações que eu, branca, jamais imaginei passar. Foi assim que percebemos a importância de contar esta história”, ressalta a diretora, que ainda comenta que seu olhar feminino para contar a história de Romeu, narrada por um homem, é uma forma também de destacar a personagem Julieta, grande amor do protagonista.
O solo narrativo mistura música, teatro e circo e, para dar conta de tudo isso, o ator foi treinado de maneira sistemática pela direção. Assim, equilíbrios, rolamentos e o manuseio de um cilindro de ferro passaram a fazer parte da rotina deste novo Romeu que está em cena discutindo estereótipos e, sobretudo, preconceito.
“Como a aparência e o local de origem podem determinar até onde uma pessoa vai crescer na vida, fechando portas e mantendo este indivíduo no mesmo lugar? A primeira importância de ‘Eu, Romeu’, pra mim, é pensar em Rocha Miranda, bairro onde nasci e fui criado, que continua sem nenhum espaço voltado pra cultura, assim como outros bairros do subúrbio que seguem assim, em completo abandono. A peça me mostra que um povo sem acesso à cultura é um povo que tem roubado os seus direitos e sua capacidade de sonhar”, afirma Marcos.
“Outro ponto é que o espetáculo se propõe a debater esse preconceito estrutural em que as mulheres são oprimidas pela sociedade só por serem mulheres, e onde os gays, pretos e a população mais pobre sofrem preconceito dentro de uma sociedade desigual, que cria um abismo social que precisa ser revisto, repensado e discutido”, conclui.